terça-feira, 28 de setembro de 2010

Congresso Missionário Oeste 1 – Dourados – MS.

Congresso Missionário Oeste 1 – Dourados – MS.

23 a 26 de setembro 2010

Oficina: Missão, Pequenas Comunidades e CEBs
“Gente simples fazendo coisas pequenas, em lugares pouco importantes consegue mudanças extraordinárias”. Provérbio africano, citado por Dom Moacyr Grechi, arcebispo de Porto Velho, no 12º Intereclesial das CEBs. Esse provérbio mostra a força missionária dos simples a quem Deus revela seus mistérios (cf. Mt 15,25) e ilumina a nossa reflexão sobre a Missão das Comunidades Eclesiais diante dos desafios da caminhada.
I - Missão
A origem da Missão se encontra em Deus que confia seu Plano de salvação em Jesus no Espírito Santo. Partimos do batismo de Jesus. Ele marca uma passagem da vida oculta em Nazaré para a sua atividade missionária. Nele, Jesus recebe o Espírito Santo para que possa dar início à sua missão (Mt 3, 13-17). Depois, numa sinagoga em Nazaré, Ele apresenta o seu programa missionário citando o profeta Isaías (Is 40) “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar a liberdade aos cativos e aos cegos a recuperação da vista...” (Lc 4, 18-20). Na sua Missão, Jesus revela um Deus cheio de compaixão e misericórdia, que ama e cuida, cura, restabelece a vida, com ternura. São essas ações de Jesus que definem a sua Missão evangelizadora - transformadora.

Jesus escolhe e chama discípulos para estar com ele, formar comunidade na unidade com o Pai e o Espírito (cf. Mc 3,13) e para os enviar até os confins da terra. Eles recebem do Mestre a ordem de continuar a mesma obra como Igreja, comunidade de discípulos vocacionada para a Missão. Os que acolhem o Evangelho reúnem-se em comunidade e, pelo batismo assumem a Missão de Jesus (At 2, 41). Nesse sentido, quem entra em contato com Jesus e aceita a sua mensagem, não pode guardá-la para si. A ordem é: Ide, pregai a Boa nova a toda a criatura (Mt 28), a todos os povos e culturas de todos os tempos. A Igreja sabe que as palavras de Cristo – Eu devo anunciar a Boa Nova do Reino de Deus – torna-se agora sua missão. São Paulo consciente deste dever chega a afirmar: é um dever que me incumbe, e aí de mim, se eu não pregasse (1Cor 9,16).

Com muita razão o Papa Paulo VI, na Encíclica (EN 13) afirma: “Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar”. Assim, a comunidade cristã nunca pode permanecer fechada em si mesma, dentro das suas fronteiras.

Recentemente a Conferência de Aparecida (maio de 2007) deu novo impulso à Igreja presente no Continente ao pedir esforços para se colocar em “estado permanente de Missão” apostando em iniciativas na formação e animação missionária de suas comunidades. A expressão “discípulos missionários” passa a ser utilizada com muita freqüência nos documentos, planos pastorais e projetos de evangelização. O Documento de Aparecia pede uma “Conversão pastoral e renovação missionária das comunidades” (7.2.) “...Nenhuma comunidade deve isentar-se de entrar decididamente, com todas as forças, nos processos constantes de renovação missionária e de abandonar as ultrapassadas estruturas que já não favorecem a transmissão da fé”. (DA 365).
Nessa perspectiva destacam-se os princípios teológicos, sobretudo, eclesiológicos, que devem iluminar a renovação e a conversão pastoral da Igreja particular, das paróquias e Comunidades Eclesiais de Base e suas estruturas pastorais e missionárias:
a) A origem da Missão;
b) O Reino de Deus, presente na pessoa de Jesus Cristo;
c) O Espírito Santo, protagonista da Missão;
d) A Igreja “discípulas missionária”, sujeito e objeto da Missão.
II - Pequenas Comunidades e Comunidades Eclesiais de Base - CEBs
Para concretizar a “conversão pastoral e renovação missionária” da Igreja, o Documento de Aparecida propõem, entre outras iniciativas, a sua setorização em unidades territoriais menores permitindo maior proximidade com as pessoas e grupos que vivem na região, a criação de “comunidades de famílias que fomentem a colocação em comum de sua fé cristã e das respostas aos problemas” (DA 372). O Documento reconhece que em algumas Igrejas da América Latina e do Caribe, as CEBs “têm sido escolas que têm ajudado a formar cristãos comprometidos com sua fé, discípulos missionários do Senhor, como o testemunha a entrega generosa, até derramar o sangue, de muitos de seus membros” (DA 178). E lembra que a Conferência de Medellín (1968) reconheceu nelas uma célula inicial de estruturação eclesial e foco de fé e evangelização. Puebla (1979) afirmou que as CEBs “permitiram ao povo chegar a um conhecimento maior da Palavra de Deus, ao compromisso social em nome do Evangelho, ao surgimento de novos serviços leigos e à educação da fé dos adultos” (cf. Puebla 629) ( DA 178).
Contudo, durante a Conferência de Aparecida, muitos bispos queriam que o termo “CEBs” ficasse fora do documento final dando preferência à expressão “Pequenas comunidades”. A final, há alguma diferença entre Pequenas Comunidades e CEBs? Um grupo que se reúne para rezar o terço, ou para reflexão bíblica, ou mesmo um circulo bíblico é uma Pequena Comunidade ou seria uma CEB?
O professor Sérgio Coutinho, assessor do Setor CEBs da Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB, nos ajuda a entender essa questão destacando as principais diferenças entre os dois termos. “Antes de qualquer coisa temos que deixar claro que CEBs não são ‘pastorais’ e muito menos ‘movimento’. São comunidades de base eclesial e não uma comunidade de base qualquer, como um grupo de vizinhança, de amigos de trabalho etc”. (Coutinho, Sérgio Ricardo, Comunidade e Comunidades Eclesiais de Base: in Igreja, Comunidade de Comunidades, p.115, CNBB, 2009).
Elementos constitutivos das CEBs: básicos para identificá-las.
1.Comunidade, porque reúne pessoas ao redor da Palavra de Deus e da realidade que as envolve. O termo comunidade define a estreita relação das pessoas unidas pela necessária busca por uma vida mais digna : “São comunidades, porque reúnem pessoas que têm a mesma fé, pertencem à mesma Igreja e moram na mesma região. Motivadas, pela fé, essas pessoas vivem uma comum-união em torno de seus problemas de sobrevivência, de moradia, de lutas por melhores condições de vida e de anseios e esperanças libertadoras”. (Frei Betto, O que é comunidade eclesial de base. Pg.17).
2.Eclesial, porque é Igreja de Jesus Cristo, Crucificado Ressuscitado. Gente que pela fé recebida pelo Batismo, busca uma vivência cristã como resposta à missão de ser fermento na massa (cf.Mt 5, 13,33). Como núcleos básicos de comunidades de fé estão vinculadas à Igreja Católica e se reúnem para celebrar a Palavra de Deus e a Eucaristia, fontes de esperança e luz para a caminhada.
3.De Base, porque experimenta o desafio de testemunhar a fé no dia-a-dia, sobretudo na convivência com a vizinhança na diferença. A palavra Base pode ter quatro significados conforme explica Leonardo Boff:
a).Base é sinônimo de fundamento, princípio, do que é essencial. A comunidade se constrói sobre o que é fundamental e principal, para a fé cristã: Jesus Cristo, o Evangelho, o seguimento da vida, do destino, e da paixão do Cristo na força do Espírito Santo. É a significação teológica da Base.(...) b) é o que se encontra na posição oposta à cúpula da Igreja e da sociedade (...) c) pode designar um processo pedagógico: as sugestões e as decisões , (...) devem, o mais possível ser discutidas e amadurecidas a partir de baixo, da base, atingindo todos os estratos eclesiais e sociais (...) o que concerne a todos, deve ser decidido por todos. (...) d) é sinônimo de pequeno grupo ou comunidade onde as pessoas partilham a fé e a vida e se ajudam mutuamente na rede de relações que descrevemos acima, quando nos referimos à comunidade. É a significação antropológica de base”. (Leonardo Boff, Novas fronteiras da Igreja- o futuro de um povo a caminho, p. 99-100).
Podemos dizer que as CEBs são pequenos núcleos de Igreja (na Base), conscientes de sua cidadania eclesial e social, interferindo na realidade, iluminados e sustentados pela fé. (Cf. Documento de Aparecida 178, 179, 180).
Os elementos essenciais de uma Comunidade dos que crêem em Cristo, são:
a Fé, a Celebração dos Sacramentos, a Comunhão e a Missão. A Palavra de Deus, a missão de Jesus e a esperança na ação do Espírito Santo, empurram a Comunidade para a Missão. “Desse confronto mútuo nasce a dimensão da libertação de toda injustiça e a fome e sede de participação e comunhão na sociedade e na Igreja. Uma Igreja não vive só de fé, mas principalmente das celebrações da fé. Trata-se, sempre, não tanto de realizar um rito, mas de celebrar a vida de fé vivida em comunidade, ritualizar a vida diante de Deus e dos irmãos”. (Coutinho, Sérgio Ricardo, Comunidade e Comunidades Eclesiais de Base: in Igreja, Comunidade de Comunidades, p.114, CNBB, 2009).
Acima de tudo, a razão de ser da Comunidade que é a Igreja é Evangelizar, a Missão faz parte da sua natureza: difundir a mensagem de Jesus sobre o Reino de Deus. Por isso, as CEBs devem ser família (hospitaleiras), samaritana (servidoras) celebrativa (na ação litúrgica da fé), profética (transformadora) e missionária (aberta ao mundo).
Uma Comunidade Cristã nunca deveria fechar-se em si mesma. Lembrando que Missão é um modo de ser antes de ser uma atividade – vivemos uma espiritualidade missionária. A Igreja Discípulos missionária, no encontro com Jesus, guiada pelo Espírito e interpelada pela realidade, Escuta, Aprende e Anuncia o Reino de Deus para a humanidade toda.
Para aprofundar:
1.O que você entende por CEBs; o que são CEBs para você?
2.Você participa de alguma comunidade ou grupo que pode ser considerado uma CEB?
3. O que deveria fazer para deixar que as CEBs aconteçam na minha realidade?
4. Quais as principais dificuldades encontradas pelas Comunidades Eclesiais hoje?
III. A missão das Comunidades Eclesiais na Cidade
Interpelados pela realidade urbana, como Igreja somos enviados em Missão entre os desafios da cidade. Nesse ambiente complexo, novas experiências são realizadas. A Missão Urbana desafia as comunidades eclesiais que nas fronteiras da cidade buscam testemunhar o Evangelho. Em meio a muitos sinais de mortes, por força do Evangelho somos convidados a afirmar e cuidar da vida como um todo. Na cidade, ao contrário da sociedade rural definida e organizada, surgem experiências novas como num mosaico, com cores e formatos diferentes, que se vista de maneira fragmentada não é compreendida, mas quando somadas na diversidade desvela o reino de Deus existente numa sociedade multi-étnica, pluri-cultural, macro-ecumênica, inter-religiosa, pós-moderna. O mundo urbano nos desafia ao diálogo, ao anúncio da boa nova nas suas múltiplas modalidades e meios, na vida de comunidades organizadas e rede e em movimento para além da tradicional “Paróquia”.
Para conversar:
A questão da pastoral urbana está intimamente ligada ao desenvolvimento da sociedade moderna:
1. Quais seriam as principais características da sociedade urbana moderna?
2. Que efeitos a Igreja, como instituição na cidade, sofre em tal situação?
3. Como chegar aos corações das pessoas muito além da Igreja institucionalizada, paroquial e além das fronteiras das Comunidades Eclesiais?
4. O que é mesmo Paróquia? - Paróquia, rede de comunidades? Paróquia, Comunidade de comunidades?

Igreja, Comunidade de Comunidades articuladas numa rede de comunidades.
Analistas visualizam algumas questões que merecem nossa atenção:
- Em termos de Igreja, o fenômeno das CEBs e de comunidades de vida cristã de vários feitios vem-se firmando. Responde de maneira vital ao anonimato da vida paroquial. E no interior das paróquias, existe esforço no acolhimento como resposta ao desafio do anonimato e massificação de nossas paróquias urbanas.
- Os movimentos leigos de apostolado e espiritualidade situam-se também nesse processo comunitário.
- Uma pastoral deve incentivar a criação de comunidades, quer de base, quer em outros segmentos sociais. Somente uma pastoral que consolide este movimento estará respondendo positivamente ao perigo do individualismo.
- A experiência urbana tem mostrado que as CEBs funcionam bem nas periferias em que as pessoas ainda conservam costumes e tradições trazidas do interior. A geração mais jovem e urbanizada tem dificuldade de construir CEBs.
- O futuro da pastoral urbana parece apontar para um jogo bem articulado entre as pequenas comunidades em todos os setores e níveis de vida eclesial entre si, interligadas em rede e momentos ricos mais raros de macro-experiências eclesiais.
A vida de fé concreta seria alimentada nas pequenas comunidades de celebração, de vivência, de estudo, de oração. E a unidade da fé e da Igreja seria garantida pelas estruturas maiores - Igreja universal, diocese, paróquia - que teriam seus momentos de visibilidade mais raros, mas fundamentais e indispensáveis.
A paróquia iria deixando de ser o único lugar do encontro para a maioria dos católicos para transformar-se no pólo dinamizador das pequenas comunidades e o centro simbólico da unidade em celebrações maiores e mais raras.
- Como fazer das Paróquias, “Comunidade de comunidades” (cf. 309, 517e) e transformá-las de comunidades de manutenção em “centros de irradiação missionária em seus próprios territórios” e “lugares de formação permanente” (306. cf.304) ?
O Documento de Aparecida indica caminhos para uma Paróquia Missionária:
- Resgatar a dimensão comunitária da paróquia (304)
- A renovação da paróquia no início do terceiro milênio (172)
- Deve ser “comunidades de comunidade” (309; 517e).
- Todas as nossas paróquias devem se tornar missionárias (173).
- De uma pastoral de “conservação” a uma pastoral “missionária” (370).
- Centro de irradiação missionária no âmbito paroquial (306).
- Novas atitudes por parte dos Párocos e Sacerdotes (201)
- Desburocratização da paróquia (203)
- Solidariedade e compromisso com os pobres (176)
- Renovar a opção preferencial pelos jovens (446a)
- Todos os membros da comunidade paroquial são responsáveis pela evangelização (171).
- Todos os paroquianos devem se transformar em discípulos missionários (172).
- Investir na formação de leigos missionários (174).
- Despertar o voluntariado missionário, nacional e internacional (372)
- Entrar num processo constante de renovação (365)
- O grande horizonte norteador de nossas paróquias: a Missão ad Gentes (379).
- Deve-se nas paróquias “abandonar as estruturas caducadas que já não favorecem a transmissão da fé” (365).
- “Os melhores esforços das paróquias devem estar na convocação e na formação dos leigos missionários” (174).

Jaime Carlos Patias, imc, diretor da revista Missões.

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