sexta-feira, 9 de março de 2012

É preciso correr, adverte a ciência

"É urgente romper a relação entre produção e consumo, de um lado, e destruição ambiental, de outro: "Crescimento material sem limites num planeta com recursos naturais finitos e em geral frágeis será insustentável", ainda mais com subsídios prejudiciais em áreas como energia (US$ 1 trilhão/ano), transporte e agricultura - "que deveriam ser eliminados", defende documento entregue no último dia 20 de fevereiro, em Nairóbi, no Quênia, aos ministros reunidos pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, escrito e assinado por 20 dos mais destacados cientistas que já receberam o Prêmio Blue Planet, também chamado de Prêmio Nobel do Meio Ambiente. O documento é comentado por Washington Novaes, jornalista, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 09-03-2012.

Segundo o jornalista, "não se trata de um manifesto de "ambientalistas", "xiitas" ou hippies. São palavras de dezenas dos mais conceituados cientistas do mundo, que advertem: "A demora (em mudar) é perigosa e seria um erro profundo".

Eis o artigo.

Deveria ser leitura obrigatória para todos os governantes, de todos os níveis, todos os lugares, o documento de 22 páginas entregue no último dia 20 de fevereiro, em Nairóbi, no Quênia, aos ministros reunidos pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, escrito e assinado por 20 dos mais destacados cientistas que já receberam oPrêmio Blue Planet, também chamado de Prêmio Nobel do Meio Ambiente. Entre eles estão a ex-primeira-ministra norueguesa Gro Brundtland, coordenadora do primeiro relatório da ONU sobre desenvolvimento sustentável; James Lovelock, autor da "Teoria Gaia"; o professor José Goldemberg, ex-ministro brasileiro do Meio Ambiente; sir Nicholas Stern, ex-economista-chefe do Banco Mundial, consultor do governo britânico sobre clima; James Hansen, do Instituto Goddard de Estudos Espaciais (Nasa); Bob Watson, conselheiro do governo britânico; Paul Ehrlich, da Universidade Stanford; Julia Marton-Lefèvre, da União Internacional para a Conservação da Natureza; Will Turner, da Conservação Internacional - e vários outros.


Nesse documento os cientistas traçam, com palavras sóbrias e cuidadosas, um panorama dramático da situação do mundo, hoje, em áreas vitais: clima; excesso de consumo e desperdício; fome; necessidade de aumentar a produção de alimentos e escassez de terras; desertificação e erosão; perda da biodiversidade e de outros recursos naturais; subsídios gigantescos nas áreas de transportes, energia, agricultura - e a necessidade de eliminá-los. Enfatizam a necessidade de "empoderamento" das mulheres e de grupos sociais marginalizados; substituir o produto interno bruto (PIB) como medida de riqueza e definir métodos que atribuam valor ao capital natural, humano e social; atribuir valor à biodiversidade e aos serviços dos ecossistemas e deles fazer a base da "economia verde".

É um documento que, a cada parágrafo, provoca sustos e inquietações, ao traçar o panorama dramático que já vivemos em cada área e levar todo leitor a perguntar qual será o futuro de seus filhos e netos. "O atual sistema (no mundo) está falido", diz Bob Watson. "Está conduzindo a humanidade para um futuro que é de 3 a 5 graus Celsius mais quente do que já tivemos; e está eliminando o ambiente natural, do qual dependem nossa saúde, riqueza e consciência. (...) Não podemos presumir que a tecnologia virá a tempo para resolver; ao contrário, precisamos de soluções humanas".

"Temos um sonho", afirma o documento. "De um mundo sem pobreza e equitativo - um mundo que respeite os direitos humanos - um mundo de comportamento ético mais amplo com relação à pobreza e aos recursos naturais - um mundo ambientalmente, socialmente e economicamente sustentável, onde desafios como mudanças climáticas, perda da biodiversidade e iniquidade social tenham sido enfrentados com êxito. Esse é um sonho realizável, mas o atual sistema está profundamente ferido e nossos caminhos atuais não o tornarão realidade".

Segundo os cientistas, é urgente romper a relação entre produção e consumo, de um lado, e destruição ambiental, de outro: "Crescimento material sem limites num planeta com recursos naturais finitos e em geral frágeis será insustentável", ainda mais com subsídios prejudiciais em áreas como energia (US$ 1 trilhão/ano), transporte e agricultura - "que deveriam ser eliminados". A tese do documento é de que os custos ambientais e sociais deveriam ser internalizados em cada ação humana, cada projeto. Valores de bens e serviços dos ecossistemas precisam ser levados em conta na tomada de decisões. É algo na mesma direção das avaliações recentes de economistas e outros estudiosos, comentadas neste espaço, a respeito da finitude dos recursos naturais e da necessidade de recompor a vida econômica e social em função disso.

O balanço na área de energia é inquietador, com a dependência de combustíveis fósseis, danos para a saúde e as condições ambientais. Seria preciso proporcionar acesso universal de toda a população pobre aos formatos "limpos" e renováveis de energia - a transição para economia de "baixo carbono" -, assim como a formatos de captura e sepultamento de gases poluentes (ainda em avaliação). Como não caminhamos assim, as emissões de dióxido de carbono equivalente já chegam a 50 bilhões de toneladas anuais, com a atmosfera e os oceanos aumentando suas concentrações para 445 partes por milhão (ppm)- mais 2,5 ppm por ano, que desenham uma perspectiva de 750 ppm no fim do século. E com isso o aumento da temperatura poderá chegar a mais 5 graus Celsius.

Na área da biodiversidade, 15 dos 24 serviços de ecossistemas avaliados pelo Millenium Ecosystem Assessmentestão em declínio - quando é preciso criar caminhos para atribuir valor à biodiversidade e seus serviços, base para uma "economia verde". Mas para isso será preciso ter novos formatos de governança em todos os níveis - hoje as avaliações cabem a estruturas políticas, sociais, econômicas, ambientais, separadas e competindo entre elas.

E para que tudo isso seja possível, dizem os cientistas, se desejamos tornar reais os nossos sonhos, "o momento é agora" - enfrentando a inércia do sistema socioeconômico e impedindo que sejam irreversíveis as consequências das mudanças climáticas e da perda da biodiversidade. Se falharmos, vamos "empobrecer as atuais e as futuras gerações". Esquecendo que vivemos em "uma sociedade global infestada pela crença irracional de que a economia física pode crescer sempre, deslembrada de que os ricos nos países desenvolvidos e em desenvolvimento se tornam mais ricos e os pobres são deixados para trás".

Não se trata de um manifesto de "ambientalistas", "xiitas" ou hippies. São palavras de dezenas dos mais conceituados cientistas do mundo, que advertem: "A demora (em mudar) é perigosa e seria um erro profundo".

instituto humanistas unisinos.

terça-feira, 6 de março de 2012

ambiente é vida!

cuidar do meio ambiente, é cuidar de si mesmo e do outro! Ou seja, é cuidar da vida!

Cardeal Hummes: "Evangelizar com sustentabilidade"

06/03/2012 | Rádio Vaticano

A pastoral com a população indígena, o desafio das seitas e a promoção do apostolado laical são apenas alguns dos desafios enfrentados pela Igreja no Brasil na região da Amazônia. Mas o desafio mais importante é a pastoral num território imenso, às vezes impenetrável, de milhares de pequenas aldeias. Uma das maiores dificuldades é a pastoral com a população indígena.

Encarregada desta missão é a Comissão Episcopal para a Amazônia, criada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, e confiada ao Cardeal Cláudio Hummes, prefeito emérito da Congregação para o Clero.

Entrevistado pelo Programa Brasileiro, Dom Cláudio relevou a importância da preservação da identidade cultural, da defesa das terras reservadas às tribos e do respeito aos seus direitos humanos. Para ele, o fundamental é evangelizar, sim, mas com sustentabilidade e, sobretudo, respeito pelos povos nativos.

"Dia 25 vou estar em São Gabriel da Cachoeira, bem no norte do Amazonas, visitando a diocese, porque eles vão inaugurar uma fazenda da esperança, para os dependentes de álcool entre os índios, que é um problema muito grande naquela região, infelizmente. Também quero visitar outras dioceses da área, mas, sobretudo na Assembleia Geral da CNBB, que será depois da Páscoa, já convocamos os Bispos da Amazônia, teremos uma grande reunião com a Comissão, para primeiramente ouvi-los. O que esperam desta Comissão? Começaremos a abordar assuntos específicos porque a Amazônia, como todos sabem, é uma região muito particular, tem particularidades que não se deveriam ser destruídas. O risco é que se trate a Amazônia como qualquer outra parte do Brasil ou do mundo".

"Como levar o desenvolvimento à Amazônia? O desenvolvimento deve preservar, ser oferecido aos índios, e não imposto. No entanto, eles têm direito a que se lhes ofereça o desenvolvimento moderno, na medida e no ritmo em que o quiserem; sem lhes impor, e menos ainda destruir, mas que eles assimilem e façam seu desenvolvimento a partir daquilo que é oferecido pela comunidade mundial e brasileira em termos de progressos econômicos, científicos e técnicos. Eles devem ser sujeitos desta história".

"Quanto à Igreja, é a mesma coisa: como a Igreja vai se inculturar na região?. Existem aqueles que defendem o direito dos índios, importantíssimos, e outros que defendem a evangelização direta, mas as duas coisas são as duas pernas com que se deve andar. Não se pode caminhar com uma perna só, seria prejudicial para os próprios índios. A Igreja de fato, se torna cada vez mais consciente, e eles também. Estas são as coisas que devemos trabalhar e ajudar".

Fonte: www. www.radiovaticana.org

Revista Missão.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Assembleia do Comina reflete sobre os desafios de estar no mundo sem ser do mundo

03/03/2012 | Jaime C. Patias

Na manhã deste sábado, a Assembleia do Conselho Missionário Nacional - Comina se debruçou sobre os 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II e os 40 anos da criação do Comina. O tema foi abordado pelo assessor do Conselho Indigenista Missionário - Cimi, o teológico Paulo Suess, autor de um dos três artigos que compõem o texto-base do 3º Congresso Missionário Nacional a realizar-se nos dias 12 a 15 de julho em Palmas - TO.

Padre Paulo Suess chamou atenção para as principais forças do Concílio na ótica da Missão com destaque para a natureza missionária da Igreja; a centralidade da Palavra de Deus, a centralidade do Reino; o conceito de Igreja como Povo de Deus; a opção pelos pobres; a inculturação e libertação. Três anos depois do Concílio aconteceram as grandes mudanças de 1968. Foi o ano das contestações e mudanças culturais. Exatamente neste ano aconteceu também a Conferência de Medellín.

O missiólogo avalia que, "ainda temos muito a fazer para realizar as propostas do Concílio. Por conseguinte, a Conferência de Aparecida pede uma Conversão Pastoral. Indicadores para esta conversão são "os sinais do tempo". O tópico dos sinais dos tempos que o Concílio e depois as conferências Latino-americanas de Medellín, Puebla, Santo Domingo e Aparecida assumiram, nos dizem: Deus fala não só na Igreja. Ele dá avisos à Igreja desde o mundo. Muitos fatos, que hoje nos questionam, são provocações de Deus para dizer que talvez seja preciso mudar algo", argumentou.

Ao comentar sobre o tema do 3º CMN "Discipulado missionário: do Brasil para um Mundo secularizado e pluricultural, à luz do Vaticano II", o assessor explicou que o termo secularização compreende dois polos: a Igreja missionária pode secularizar-se, correr atrás das modas, ou ela pode manter-se fora ou acima do mundo. O Evangelho nos propõe, "estar no mundo sem ser do mundo. Podemos desvirtuar a nossa missão por excesso de secularização ou por falta de contato com o mundo. Para ele, o ideal é "buscar o bom meio, o equilíbrio entre os dois extremos".

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"Missão é responsabilidade", afirmou Paulo Suess, para em seguida explicar que, "o capitalismo é irresponsável. O Capital exterioriza as responsabilidades pelos trabalhadores (saúde, bem-estar, aposentadoria) e nós somos responsáveis pelo que acontece no mundo, espiritual e materialmente. Somos responsáveis pelas necessidades básicas da comunidade, que são materiais e espirituais. As comunidades, às vezes, passam por um jejum eucarístico prolongado. Ser católico significa ler a palavra de Deus e celebrar o sacramento. Precisamos repensar a estrutura sacramental dos ministérios", disse referindo-se à falta de ministros ordenados para lidar com os sacramentos. "A questão não está no embate sobre as normas e doutrinas, mas em garantir a nossa presença no mundo diversificado com ministérios diversificados. Somos construtores de uma Igreja diaconal, dialogal e profética. Como diz Aparecida, a conversão pastoral da Igreja visa à uma Igreja casa dos pobres, samaritana e advogada. Não somos mais os tutores dos fracos nem os juízes entre ricos e pobres", sublinhou.

Nessa questão, a Vida Consagrada e Religiosa, pode contribuir. "O imperativo profético se desdobra não só em crítica e denúncia, mas também na assunção positiva da gratuidade, da ascese, do despojamento. A profecia desdobra-se na dimensão contracultural da negação da cultura hegemônica de consumo. A Igreja missionária é o freio de emergência de um projeto que impossibilita o bem viver dos pobres".

Sobre o desafio entre mundo secularizado e inculturação, o padre Paulo Suess destacou que,"o discipulado missionário exige inculturação no ambiente dos pobres onde a fé é vivida. Por outro lado, a fé é sempre vivida na contramão da cultura hegemônica. Mas, os pobres, muitas vezes, anseiam os "progressos" da cultura hegemônica. Também eles fazem parte do mundo alienado. A dor dos que sofrem nem sempre liberta da alienação". Precisamos sempre discernir entre a necessidade da "inculturação" e a necessidade da contraculturalidade evangélica. Eis a questão: estar no mundo, sem ser do mundo", alertou.

"A nossa missão é de esperança que possibilita reconhecer a justiça como necessidade, transformá-la em possibilidade cotidiana, experimentá-la como graça e vivê-la convincentemente através da nossa presença solidária, até os confins do mundo", concluiu o teólogo.

Na sequência aconteceu uma coletiva de imprensa durante a qual foram apresentados oficialmente o Cartaz, a Logomarca, o Instrumento de Trabalho e o Site do 3º Congresso Missionário Nacional.

Conheça o site oficial do 3º CMN: http://pom.org.br/congresso/

Fonte: Assessoria Comunicação do Comina

Revista Missões.