sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Estudo lista os desafios ambientais deste século

A comunidade científica internacional listou as 21 questões ambientais emergentes no século XXI, e no topo do ranking está a necessidade de ajustar a governança aos desafios da sustentabilidade global. Ou seja: no sistema atual faltam representatividade, dados, transparência, maior participação e eficiência na transição para economias de baixo carbono. O segundo lugar do ranking é surpreendente: não há profissionais capacitados para a economia verde.

Governança é um temas-chave da Rio+20, a conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável que acontece no Rio em junho.

A reportagem é de Daniela Chiaretti e publicada pelo jornal Valor, 24-02-2012.

Ali o debate será sobre fortalecer e achar uma nova arquitetura para ambiente e desenvolvimento sustentável dentro da ONU. No estudo, divulgado esta semana em Nairóbi, cientistas apontam uma falha generalizada que extrapola a ONU e existe nas pequenas comunidades, cidades e regiões e em nível nacional. Há um grande descompasso entre o que a ciência aponta como problemático e a capacidade dos governos de encontrar soluções, mesmo que existam mais de 900 acordos internacionais com foco na proteção ambiental. A convenção do clima é um dos exemplos emblemáticos.

Os problemas de governança ambiental ganharam o topo da lista de temas que 428 cientistas de todo o mundo reconhecem como muito importantes, mas que, acreditam, não estão recebendo a merecida atenção dos governos. O estudo "21 Questões para o Século 21" levou quase um ano para ser realizado pelo Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma). A intenção é informar os líderes que vão tomar decisões na Rio+20.

O segundo lugar no ranking é a ausência de profissionais capacitados para o desenvolvimento sustentável. Um estudo recente do Pnuma com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) nos EUA esbarrou na falta de engenheiros que pudessem desenhar geradores solares. "Nos próximos dez anos, muitas usinas nucleares no mundo serão desativadas, o que irá produzir um enorme volume de lixo atômico", explica Joseph Alcamo, cientista-chefe do Pnuma e coordenador da pesquisa.

Segundo ele, há entre 35 e 40 usinas nucleares no mundo construídas nos anos 70 e que se aproximam do prazo de validade. "O volume de lixo nuclear de uma usina desativada pode ser entre 10 a 2.000 vezes maior do que quando ela estava em operação", estima. Não há técnicos especializados neste assunto e menos ainda na proporção necessária. "É preciso educar e capacitar para estes desafios", diz.

Para 84% dos especialistas do estudo, a segurança alimentar será uma grande questão no século em que a população mundial chegará a 9 bilhões. O temor não é novo, mas há uma novidade, diz Alcamo: "É a dimensão ambiental do problema". Trata-se de produção de alimentos ameaçada pela mudança climática, pela competição pela terra entre comida e biocombustíveis ou que enfrenta falta de água.

"Peixes representam 10% das calorias consumidas pelas pessoas no mundo, e 25% dos estoques estão esgotados ou super explorados". "Há zonas pesqueiras mortas perto da costa em função da poluição das águas", destaca. A produção de biocombustíveis tem ocupado mais 2 milhões de hectares de terra por ano. Há um acréscimo de 2 a 5 milhões de hectares ao ano de solos degradados. "Há muitas soluções para isso", diz. "Um deles é recuperar as áreas degradadas."

Cientistas acreditam que reconstruir a ponte entre ciência e política é outra questão, assim como lidar com migrações resultantes da mudança do clima, o potencial colapso de sistemas oceânicos e o derretimento das geleiras.




INSTITUTO HUMANISTAS UNISINOS.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

ESCOLA DE CONSCIÊNTIZAÇÃO AMBIENTAL.

Paz e alegria!
A Pastoral da Ecologia da Região Episcopal Brasilândia está com as inscrições abertas para o Curso Semestral de Educação Ambiental, certificado pela PUC-SP.
Abertura: 03.03.12 ( na Região Episcopal Belém, com Bispo a definir endereço cf. folder em anexo)
Início do curso: 10.03.12 - 08h as 12h
Término: 02.06.12
OBSERVAÇÃO: O primeiro módulo, será trimestral e o segundo, semestral.
Local: Paróquia Santos Apóstolos (Igreja de Zinco) - Av. Itaberaba, 3907
Inscrições e informações: f. 3941-1868 / e-mail: iva.mendes@bol.com.br
Faça já sua inscrição!
cel. 7467-5829 / 8924-8515 iva mendes.

Assad tenta forçar submissão de Homs e alarma o mundo.


As forças do presidente sírio, Bashar al-Assad, tentando forçar a submissão da cidade de Homs, mataram nesta quarta-feira mais 19 pessoas, incluindo dois jornalistas ocidentais, em um ataque que provocou clamor internacional a favor de uma intervenção que acabe com o derramamento de sangue.

Centenas de pessoas foram assassinadas em bombardeios diários contra Homs pelas forças de Assad que cercam a cidade e que usam artilharia, foguetes e tanques T-72 d

Manifestantes batem na imagem do presidente

Bachar al-Assad com sapatos durante um protesto

durante o regime de Assad do lado de fora da

Embaixada Síria, em Londres.

fabricação soviética, aumentando os temores de que Assad submeta Homs à mesma devastação infligida por seu pai à cidade rebelde de Hama 30 anos atrás, que deixou mais de 10.000 mortos.

Com a paralisação da diplomacia que tinha o objetivo de parar o derramamento de sangue na Síria, e as forças de Assad intensificando as ofensivas para exterminar os rebeldes, os Estados Unidos deram a entender que poderiam armar a oposição síria.

O bairro de Baba Amro em Homs, onde foram relatadas as 19 mortes, está sendo bombardeado desde 3 de fevereiro, levando o conflito para uma nova dimensão que deve dominar as conversas “Amigos da Síria” em Túnis na sexta-feira, onde a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, se reúne com autoridades e grupos de 70 países.

Em um sinal de que a carnificina está piorando na Síria, ativistas disseram que as tropas e milícias leais a Assad capturaram e mataram 27 jovens na terça-feira em vilarejos no norte do país. A insurreição contra o governo autocrático de Assad já dura 11 meses.

A Rússia, um dos poucos aliados de Assad e que pode ter alguma influência sobre ele, disse na quarta-feira que estava buscando uma passagem segura de comboios com ajuda para civis sírios presos na violência disseminada.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Alexander Lukashevich, disse que a Rússia, que é um fornecedor de armas para a Síria, pediu ao secretário-geral da ONU que enviasse um representante para entrar em contato com todos os lados envolvidos no conflito sírio pelo tráfego seguro de comboios humanitários.

“Nossa iniciativa visa fornecer segurança para os transportes de cargas humanitárias, estamos trabalhando de forma ativa com a Síria e com (os países) em volta”, disse Lukashevich a jornalistas.

“Estamos trabalhando nessa área com a liderança síria e com representantes da oposição, com a Cruz Vermelha Internacional”, disse.

A Cruz Vermelha pediu cessar-fogo diários para permitir que a ajuda chegasse a cidades como Homs, onde os moradores estão perto da inanição, sobrevivendo de água recolhida da chuva, vendo os feridos morrerem e amedrontados demais para sair de suas casas e abrigos.

A França instou a Síria na quarta-feira a suspender os ataques contra Homs e a permitir o acesso seguro para trabalhadores humanitários cuidarem dos feridos.

O Conselho Nacional Sírio (CNS), da oposição, disse na quarta-feira que estava chegando à conclusão de que a intervenção militar era a única resposta para a crise.

“Estamos realmente perto de ver essa intervenção militar como a única solução. Há dois males, a intervenção militar ou a guerra civil prolongada”, disse Basma Kodmani, uma autoridade da CNS, em uma coletiva de imprensa em Paris.

Jornalistas mortos

Dois jornalistas ocidentais foram mortos quando bombas atingiram as casas em que estavam em Homs na quarta-feira, afirmaram ativistas de oposição e testemunhas à Reuters.

Os repórteres eram Marie Colvin, jornalista norte-americana que trabalhava para o jornal britânico Sunday Times, e o fotógrafo francês Remi Ochlik.

Uma testemunha disse à agência inglesa de notícias Reuters por telefone que bombas atingiram a casa onde eles estavam e um foguete os atingiu enquanto tentavam escapar.

Ambos eram repórteres veteranos de guerras no Oriente Médio e outros locais.



Por Redação, com Reuters - de Amã.

CORREIO DO BRASIL.


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A mulher da Era pós moderna


A mulher da Era-pós moderna deve aparecer nos editoriais "completamente desnuda de vulgaridade e totalmente vestida de inteligência". Sua elegância se fará notar pela suavidade dos adereços. Na boca, um precioso implante de palavras que desviem o furor. Cílios nada postiços, capazes de filtrar o excesso de pó que pulverizam na vida das pessoas e uma lente de contato para enxergar as qualidades do próximo. Nos cabelos, condicionadores que amaciem o afago das mãos que se apressem a moderar, acalmar, abrigar.
15/02/2012 | Ivone Boechat *

A mulher deve se preparar para ser modelo. Só pisar nas passarelas da vida, sob as luzes do flash da simpatia! Para manter a forma, uma dieta diferenciada. Evitar os frutos amargos que se colhem nos canteiros do ressentimento, nunca se afogar numa sopa de mágoa, regada a disse me disse, nem pensar em se viciar na overdose da desgraça alheia.

Toda noite, a mulher pós-moderna tem o cuidado de limpar do rosto as teias da decepção daquele dia e espalhar muita alegria em volta dos olhos, da boca, áreas mais afetadas pela desidratação que a tristeza provoca! A reposição hormonal do amor, da fé, da misericórdia e da compaixão é feita em alta dosagem, porque já se provou cientificamente que o único efeito colateral que provoca é a manifestação de bondade.

A mulher pós-moderna não pode se descuidar de suas mãos. Ela tem nos dedos a aliança de compromisso com a dor alheia. Na bolsa, uma cartela de pílulas da felicidade e também não podem faltar moedas para facilitar o troco: ofensa se troca pelo perdão. Afinal, ela só anda na última moda, moda e mudança são palavras irmãs. Roupa de marca é roupa que marca a sua presença nas rodas sociais, pela discrição e dignidade.

A mulher pós-moderna não é pesada no self-service cultural, como uma salada de frutas: melão, melancia, morango; ela é louvada e reconhecida no jardim da família pelo nome das flores que ajudou a plantar: mulher margarida, mulher rosa, mulher violeta, mulher hortência, mulher-amor-perfeito.

A mulher pós-moderna é embaixadora da paz. É vigilante pertinaz da preservação da vida! A plástica de sua beleza interior não perde a validade. Seu corpo espiritual se reabastece nos mananciais da fé.

* Ivone Boechat é mestre em educação, pedagoga, conferencista e escritora. Autora do livro "Estratégias para encantar educadores na Arte de Aprender" (2011).

Fonte: Revista Missões

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Posto do Incra

Posto do Incra em área de conflito do PA sofre abandono

O aviso afixado desde dezembro na porta do posto do Incra em Anapu (região central do Pará), anuncia

o inicio das atividades do ano em 23 de janeiro, mas até agora ninguém apareceu por ali.

A reportagem é de Felipe Luchete e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 13-02-2012.

A unidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária está em uma área de conflito
em que vivem 2.400 famílias assentadas e onde a missionária Dorothy Stang
foi assassinada sete anos atrás.

Dorothy liderava um projeto de agricultura familiar no PDS (Projeto de Desenvolvimento
Sustentável) Esperança. Antes de morrer, pediu ao Incra a regularização de terras
na área para evitar a violência de grileiros.

"A situação aqui já era inflamada, agora está pior", diz a missionária Jane Dwyer, que assumiu
as funções de Dorothy após o assassinato.

REABERTURA

Na última quinta-feira, um grupo de moradores entregou uma carta ao procurador
Paulo Roberto Ramalho - que representa o Incra em questões legais - pedindo a reabertura do posto.

"Sem o posto [...] as coisas ficam ainda mais difícil [sic], as atividades de créditos, vistoria e etc. não acontecem!!", diz o documento.

Segundo o Incra, há dois funcionários da prefeitura no local para prestar informações à população
desde o dia 23. Moradores e lideranças ouvidas negam.

Sem os funcionários do Incra, a fiscalização e o cadastro de famílias interessadas em
lotes do assentamento foram suspensos.

Fernando Leal, chefe da unidade de Altamira - à qual Anapu está vinculada - disse que o posto
será reaberto em março.

Segundo ele, os servidores voltaram para seus Estados de origem no fim do ano e o regresso deles
depende de despesas que serão aprovadas no orçamento de 2012.

GUARITAS

A segurança no PDS Esperança tem outras falhas. Uma das duas guaritas planejadas pelo Incra
para conter o transporte ilegal de madeira derrubada no assentamento ainda não foi entregue.

A primeira foi inaugurada em agosto de 2011, já com atraso. Na época, o Ministério do
Desenvolvimento Agrário anunciou que a outra ficaria pronta em até 40 dias. Seis meses
depois, a obra ainda não saiu do papel.

CONTRABANDO

Como o assentamento tem dois acessos, o contrabando de madeira continua sendo feito pela
entrada que está sem controle, de acordo com Jane Dwyer.

O presidente do Incra, Celso Lacerda, disse ter sido informado pela superintendência de
Santarém que a empresa que ganhou a licitação para fazer a obra foi ameaçada e deixou o
local sem terminá-la.

O novo prazo, de 90 dias, pode aumentar se uma nova concorrência for necessária.

No fim do ano passado, Altamira passou a responder diretamente ao Incra em Brasília.
A superintendência emSantarém continua responsável por contratos antigos.



instituto humanista unisino


Paulo Schilling

Paulo Schilling (1925-2012): Sem choro nem vela, foi-se o padrinho dos sem-terra

Morreu praticamente esquecido no final de janeiro no exílio paulistano o riopardense Paulo Schilling (1925-2012), uma das figuras mais ricas da história política gaúcha. Braço esquerdo do governador Leonel Brizola, ele tinha luz própria e jamais renunciou aos ideais nacionalistas de inspiração marxista, a despeito do colapso da maior parte das experiências comunistas do século XX.

A reportagem é de Geraldo Hasse e publicada pelo jornal Sul21, 12-02-2012.

Militante do extinto PTB, Schilling se atirou de peito aberto na luta pela reforma agrária em meados dos anos 1950, quando assumiu o papel de pai adotivo dos sem-terra da região de Encruzilhada do Sul, na Serra das Encantadas, onde exercia cargo técnico na Secretaria da Agricultura. Ali, na hoje chamada Metade Sul, dominada por grandes propriedades voltadas para a criação extensiva de gado, nasceu com a ajuda dele a primeira associação de trabalhadores rurais sem terra do Rio Grande do Sul, embrião do Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), que chegou a mobilizar cerca de 200 mil famílias camponesas (pobres) gaúchas. Na mesma época, milhares de agricultores (remediados) criaram cooperativas agrícolas mais tarde reunidas na Fecotrigo. Schilling também participou diretamente do planejamento do projeto do Banhado do Colégio, em Camaquã, um dos marcos do governo Brizola — o outro foi a desapropriação da Bond & Share, empresa norte-americana de produção energia, indenizada com Cr$ 1 em favor da CEEE.

A maior parte do esforço de organização nas bases rurais foi destruído a partir de 1964 pelos governos militares, que mantiveram entretanto o incentivo ao cooperativismo, suplantado politicamente pela Farsul, que representa o capitalismo agrário gaúcho.

O movimento dos sem-terra renasceria na Metade Norte do RS no início dos anos 1980, quando Paulo Schillingacabara de voltar de 15 anos no exílio, primeiro em Montevideo e depois em Buenos Aires. O “Alemão” (como o tratava Brizola) já tinha então se afastado do ex-governador do Rio Grande do Sul, também exilado no Uruguai, onde tinha uma fazenda de criação de gado.

Os dois começaram a divergir em relação a apoiar ou não ações armadas contra a ditadura militar. O primeiro movimento foi a “viagem” do coronel Jéferson Cardim Osório, que saiu das Missões disposto a repetir os feitos daColuna Prestes, iniciada 40 anos antes em Santo Ângelo. Osório chegou ao Paraná antes de fugir do país.

A discórdia Brizola x Schlling se aprofundou em 1967, durante a guerrilha na Serra do Caparaó, na divisa dos estados de Minas, Rio e Espírito Santo. No meio do caminho, quando ficou claro que os revolucionários não teriam ajuda dos sitiantes serranos, Brizola mandou desativar o movimento. Além de retirar seu apoio, acabou sendo acusado posteriormente de não prestar contas de dólares recebidos de Cuba para financiar a revolução.

Schilling e Brizola não brigaram, mas se afastaram. De volta ao Brasil, enquanto Brizola criou o PDT, Schilling ajudou a fundar o PT. Sem disputar mandato eleitoral, PS fez política dentro da estrutura de poder, como um autêntico intelectual orgânico, mais apegado às próprias ideias do que ao pragmatismo político-partidário. Também não era de subir em palanque ou mesa de auditório. Só se pronunciava quando cutucado, daí talvez ter se tornado uma espécie de passageiro clandestino da história brasileira. Um passageiro privilegiado que chegou a estar ao lado dos condutores de um processo democrático truncado na primeira metade dos anos 1960.

Por tudo isso é difícil refazer seu perfil: além de naturalmente reservado, ele pouco se expunha, até mesmo desdenhava das possibilidades de sucesso na mídia ou na academia. Ironicamente, o padrinho dos sem-terras gaúchos chega ao final quase sem biografia. Como se um aluvião histórico tivesse enterrado a maior parte dos seus feitos, estudos e planos para mudar o panorama econômico do Rio Grande e do Brasil. É uma injustiça que precisa ser reparada, ainda mais que suas análises sobre a realidade agrária continuam válidas.

São dignos de nota, porém, o respeito e o carinho dos poucos jornalistas que o entrevistaram nos últimos 30 anos.Flavio Aguiar na Carta Maior e José Caldas Costa no Século Diário o reverenciaram, não apenas pela coerência intelectual, mas pela consistência de suas análises e propostas no âmbito do uso da terra no Brasil. “Era daqueles personagens temidos pelos tiranos de todos os tempos, porque sabia pensar”, resumiu o jornalista e professor de geografia Caldas Costa em sua coluna no www.seculodiario.com de Vitória.

Aos sobreviventes da corrida iniciada por Paulo Schilling na época da redemocratização do pós-Guerra, fica o desafio de levantar sua contribuição ao esforço pela justiça social. Ele escreveu mais de 30 livros e seu tema preferencial foi a questão da terra, mas sua obra mais importante é Como Se Coloca a Direita no Poder, uma crítica por dentro dogoverno Goulart, do qual ele participou como membro da tecnocracia empenhada na implantação de uma reforma agrária capitalista.

Isso ele deixou claro num depoimento dado em 1982 à revista da Fundação de Estatística e Economia (FEE), órgão da Secretaria do Planejamento do governo gaúcho. Dessa entrevista participaram Limeira Tejo, Claudio Accurso, Rubens Lima e Enéas de Souza. Dela foram pinçados trechos (da lavra de Paulo Schilling) que, transcritos abaixo, esclarecem episódios e fatos da história política do Rio Grande do Sul e do Brasil.

Sobre a rivalidade Brizola x JK


Brizola tinha verdadeiro ódio do Juscelino, porque era sistemático: por melhor que fosse o projeto que saísse daqui (do Rio Grande), chegava lá (em Brasília) e não andava. Quer dizer, esse problema pessoal entre os dois, que pretendiam ser candidatos á Presidência, teve muito a ver com a sabotagem que sofreu o Estado, isso era uma ordem dentro do governo Juscelino, historicamente isso tem que ser dito.”

Sobre o colapso da triticultura gaúcha nos anos 1950

“Devido à política desenvolvimentista de Juscelino para industrializar o país a qualquer preço, sem considerar outros aspectos como o social e o nacional, haviam sido firmados os chamados Acordos do Trigo Norte-Americano. Os EUA estavam, na época, com 40 a 50 milhões de toneladas de trigo excedente, não havia sequer condições de armazenar este produto; eles o deixavam em pirâmides ao ar livre. Então, no que deve ter sido uma das maiores manobras de dumping do mundo capitalista, os EUA ofereceram, pela primeira vez na história, este trigo para ser pago em cruzeiros e não em dólares, com 40 anos de prazo. Nesta época, as lavouras de trigo do Rio Grande do Sul,Santa Catarina e, de forma incipiente, do Paraná já começavam a se desenvolver. Em 1956, a produção já alcançava 800 mil toneladas, quase a metade do consumo nacional. Logo, esta manobra americana praticamente liquidou a lavoura de trigo no Rio Grande do Sul. Imaginem, no meio de uma colheita, começar a chegar uma quantidade massiva de trigo americano. Certa vez, chegou a haver uma fila de 80 navios descarregando trigo no porto de Santos. Pois bem, isso alimentou aquele sentimento nacionalista que havia aqui no Estado. Esse movimento do trigo que evoluiu para a soja, e que pesa bastante mais nesse conjunto, passou a assumir uma característica de defesa também da nacionalidade. Foi um movimento nacionalista muito interessante, que começou a se estruturar organicamente. Com alguns companheiros, Danilo Romero, de Bagé, Alfredinho Westphalen, de Cruz Alta, Walter Graeff, de Carazinho, só para citar alguns, começamos a organizar as associações. Em primeiro lugar, as associações dos triticultores, exatamente para defender os interesses desse setor de classe; numa segunda etapa, partimos para a organização das cooperativas de trigo, iniciando então a FECOTRIGO que hoje é essa potência, mesmo com suas deformações, que é o problema do cooperativismo dentro do sistema capitalista.”

Reforma agrária, pivô da reação


“Naquele tempo, a grosso modo, a metade da terra do Rio Grande do Sul ainda estava sendo explorada de forma precária, via o latifúndio tradicional extensivo. Os dados que se tinha de comparação com a Argentina e com o Uruguai eram impressionantes. Então, fez-se a tentativa, por um lado, de modernizar a base da média propriedade industrializada nos moldes do sistema norte-americano e, por outro, de tratar de assegurar uma reestruturação da pequena propriedade, impedindo que ela legalmente se transformasse em minifúndio. Isso tudo surgiu num projeto de reforma agrária, que foi elaborado durante o período de Brochado da Rocha como primeiro-ministro, onde se modificavam totalmente os conceitos de minifúndio e latifúndio. Todos os projetos de reforma agrária anteriores que entraram no Congresso estabeleciam o latifúndio como uma propriedade de mais de 500 hectares. Nós alteramos isso, não estabelecendo nenhum limite. A base que se estabeleceu foi de que latifúndio é a propriedade que não produz aquilo que pode produzir.

Pois bem, aí surgiu toda aquela campanha, não mais a nível de Rio Grande do Sul, mas a nível nacional. Acho que a reforma agrária era fundamental por dois motivos: primeiro, é evidente, pelo motivo social, pois eram 12 milhões de camponeses sem terra; segundo, para aumentar a produtividade no campo. Entendia-se que somente se poderia avançar, dar um salto no processo de industrialização, se aumentasse aceleradamente a produção agrícola para gerar divisas que pudessem importar equipamentos e tecnologia. Ainda mais que a indústria estava em crise. No último ano do governo de João Goulart, por exemplo, o Produto Interno Bruto foi 1,5% menor do que o crescimento demográfico. Logo, era preciso criar novos mercados para a indústria nacional. Entretanto houve uma enorme reação e não foi feita a reforma agrária. O atual modelo econômico brasileiro é uma série de remendos, mas assenta-se fundamentalmente, no meu entender, em duas bases: no desenvolvimento com base em capitais forâneos, o que numa primeira etapa dá resultado, pois é como uma injeção que dá euforia; e na construção de uma moderna sociedade industrial, porém sobre as bases de uma sociedade agrária obsoleta, atrasada e antieconômica.

É preciso que se diga que, na época, nós não pensávamos em uma reforma agrária em termos socialistas e sim capitalistas. Ela objetivava racionalizar a produção no campo. Foi um projeto elaborado pelo Jader de Andrade, que foi secretário da Agricultura do Miguel Arraes, e por mim. Goulart acabou não mandando este projeto à Camara, mas ele foi apresentado, posteriormente, por Brizola e pela Frente Parlamentar Nacionalista.”

Brizola e Antônio Ermírio de Moraes

“Eu diria que Brizola tem um marco dentro de sua evolução ideológica. Hoje estamos em campos antagônicos. Acho que Brizola evoluiu de uma posição nacionalista popular reivindicatória para o velho populismo. Logo, se estou falando bastante nele, não é propaganda: falo do Brizola de antes.

Depois de termos tentado, de todas as maneiras, fazer alianças com setores da chamada burguesia nacional, vimos que ela sempre falhava. Quando se lança, por exemplo, a reforma agrária, notem bem, uma reforma agrária capitalista, da qual o maior beneficiado seria o camponês sem terra, mas o segundo maior beneficiário seria a própria burguesia, porque iria ampliar tremendamente o seu mercado de consumo, essa burguesia reage totalmente contra a reforma agrária, Eu afirmo aos senhores que nenhum dos grandes “capitães” da indústria brasileira ficou a favor do nosso projeto de reforma agrária, foram massivamente contra. Também na luta contra o imperialismo não se encontravam aliados, com exceção do Ermírio de Morais. Eu fui diretor do Panfleto, um semanário do Brizola no Rio, que circulou até o numero sete, depois veio o golpe e terminou, e o único colaborador da burguesia nacional para o nosso jornal foi o Ermírio de Morais.

Então, Brizola, no discurso do Centro Acadêmico Cândido Oliveira (CACO), já desiludido, pois não havia maneira de acertar o passo com a burguesia nacional e consegui-la como aliada, teve uma frase mais ou menos assim: ‘A burguesia nacional hoje é um simples agente do imperialismo’. E infelizmente era o que se verificava.”

Nacionalismo


“No meu livro Como se Coloca a Direita no Poder, no capítulo sobre Getúlio, eu mostro que nem sequer esse nacionalismo que teve vigência no país a partir de 1930 se pode chamar honestamente de nacionalismo burguês, porque foi um nacionalismo que surgiu no setor agrário. Como no Uruguai, com Luis Alberto Herrera, foi um nacionalismo que surgiu da luta do fazendeiro do Rio Grande do Sul contra os frigoríficos e que Getúlio depois transplantou para o plano nacional. O fazendeiro aqui no Estado regrediu historicamente com as charqueadas para não se deixar explorar pelos frigoríficos. A origem do nosso nacionalismo não nasce na burguesia de São Paulo, a prova é que a revolução foi feita contra São Paulo.”

Reformas de base

“O único período em que efetivamente o Rio Grande do Sul esteve no governo João Goulart foram os dois meses doBrochado da Rocha como primeiro-ministro. Inclusive a assessoria do Brizola se deslocou para o Planalto e fizemos aqueles 16 ou 18 projetos de lei que, se tivessem sido aprovados, teriam sido ‘as reformas’, sem dúvida nenhuma. Eram as reformas que julgávamos necessárias para um passo adiante a nível nacional. Não reformas socialistas, mas de um capitalismo muito mais racional, eliminando toda uma série de entraves feudais ou semifeudais que havia.

Algumas das coisas que a gente planejava fazer, o governo militar fez. Por exemplo, o Estatuto da Terra. Modificaram inclusive o artigo da Constituição que, no governo Brizola, impedia que se pudesse resolver esse problema das 200 mil famílias em termos estaduais. Aliás, acho que o principal problema do Rio Grande do Sul , ainda hoje, continua sendo exatamente o da terra e o da exportação de gente. Ainda este ano estive em São Felix do Araguaia, convidado por D. Pedro Casaldáliga, e havia gaúcho por todos os lados. Não que eu veja nisso algum mal em si, pois vejo o Brasil como um todo, mas acontece que essas migrações internas estão sendo feitas de forma anárquica e muito por cima das necessidades reais do desenvolvimento harmônico nacional.

O último recenseamento mostrou que, entre 1970 e 1980, 24,3 milhões de brasileiros mudaram de região, e isto é um problema muito sério, inclusive um problema que, do ponto de vista das classes dominantes, preocupa, porque foram criados verdadeiros monstros. Por exemplo, a Grande São Paulo tem 12 milhões de habitantes. Continua havendo o problema da capacidade de expulsão do latifúndio ser muito maior do que a capacidade de absorção pela indústria e pelos serviços urbanos dessa mão-de-obra. De cada dois expulsos do campo ou de sua região para outra região, um consegue se integrar na economia capitalista urbana, o outro fica pelo meio do caminho, marginalizado. O próprio governo admite que existem 40 milhões de pessoas marginalizadas nesse país. A grosso modo, são três países num só: 40 milhões que constituem uma sociedade de consumo, 40 milhões que vivem num equilíbrio instável e 40 milhões totalmente marginalizados.