quarta-feira, 11 de abril de 2012

2039- RIO+20

Aliança RECOs
Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras

“....O discurso ambiental está sendo usado como uma oportunidade de criar novos mercados, com a financeirização da natureza. O sentimento por parte de alguns governos europeus é de que, com a crise, eles não têm dinheiro para preservar a natureza. Eles defendem que se há uma maneira de ganhar dinheiro preservando os ecossistemas, isso tornará a preservação ambiental atrativa, para que a natureza seja utilizada no mercado de compensação por emissões de carbono, por exemplo. Essa financeirização é vista como solução, mas ela está na origem da própria crise que estamos enfrentando. Tome-se o sistema de hipotecas do mercado imobiliário, que é um instrumento financeiro usado há séculos: pensava-se que os governos sabiam regular esse mercado e que a indústria sabia operá-lo, isso até 2007. Esse sistema deu origem a uma crise pela qual estamos pagando até hoje. E agora estão tentando nos convencer de que as mesmas pessoas que ‘desarrumaram’ nossa casa devem ter permissão para cuidar do jardim. E isso é ridículo. Enquanto estão ocupando Wall Street – e eu acho ótimo que estejam – Wall Street está tentando ocupar nossas florestas, nossos campos, nossa água e nossa atmosfera. E não podemos permitir que isso seja feito...”


“O DISCURSO PARA A RIO+20 VENDE A IDEIA DE QUE A SOLUÇÃO DE TODOS OS PROBLEMAS ESTÁ NA TECNOLOGIA, E NÃO ESTÁ”

texto originalmente publicado no site da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio – Fiocruz

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Pat Mooney. Crédito: Elevate Festival/Flickr.

Em junho, o Rio de Janeiro vai sediar a Rio+20, conferência que, segundo a ONU, pretende “renovar o compromisso político rumo ao desenvolvimento sustentável”. No entanto, o canadense Pat Mooney, diretor do ETC Group, ONG que monitora novas tecnologias, alerta que a Rio+20 corre o risco de legitimar o desenvolvimento de tecnologias que podem causar enormes impactos sociais, econômicos e ambientais se empregadas indiscriminadamente, incluindo a apropriação dos recursos naturais por grandes corporações e alterações de larga escala nos sistemas naturais da Terra. Mooney, que há 40 anos integra entidades da sociedade civil ligadas ao monitoramento do comércio mundial de alimentos, produtos agrícolas e minérios, fala sobre aquelas que, segundo ele, são as principais tecnologias discutidas nos preparativos da Rio+20: a biologia sintética, a nanotecnologia e a geoengenharia. Segundo ele, empresas como Shell e Syngentainvestem pesado nelas, bem como governos de países como os EUA.

Por que se acredita que essas tecnologias podem acabar com nossa dependência de recursos naturais e solucionar o problema climático?

A nanotecnologia permite a manipulação da matéria em escala nanométrica, ou seja, um bilionésimo de metro. Nessa escala, as características dos elementos químicos se alteram: sua condutividade elétrica, sua cor, a forma com que ele reage à pressão atmosférica, etc. Ela oferece a possibilidade de que seja usada muito menos matéria prima para produzir determinados produtos e acredita-se que com ela seja possível tornar determinadas commodities desnecessárias, sendo possível substituir uma por outra. Por exemplo, o giz que é usado nas escolas: manipulado na escala nanométrica, ele fica 100 vezes mais duro que o aço e mais leve. Então, acredita-se que algo barato como o giz poderá ter características que permitam que ele seja usado para construir prédios ou pontes.

A biologia sintética pode ser descrita como o lado biológico da nanotecnologia, pois possibilita a manipulação dos elementos que compõem o DNA dos organismos vivos. O que os investidores estão dizendo é que com o desenvolvimento da biologia sintética será possível criar qualquer tipo de organismo; ela possibilita a criação de uma nova forma de vida, o que, aliás, já foi feito no ano passado por um pesquisador chamado Craig Venter. Com isso acredita-se que seja possível sintetizar micróbios capazes de utilizar biomassa transformá-la em eletricidade, em combustíveis, em comida, no que for. Na teoria, seria possível sintetizar um micróbio capaz de produzir plástico, por exemplo, a partir da celulose presente nos vegetais. A diferença entre essa tecnologia e a engenharia genética, usada na criação dos organismos geneticamente modificados, é que a biologia sintética teoricamente possibilita a síntese do DNA a partir do zero, enquanto a engenharia genética ‘apenas’ transfere um ou mais genes de um organismo para outro. Pesquisas nessa área estão sendo feitas por todo o mundo, inclusive no Brasil. Em São Paulo, por exemplo, há uma empresa norteamericana chamada Amyris, que tem parcerias com usinas de cana-de-açúcar brasileiras para utilizar a biologia sintética para a produção de melhores biocombustíveis utilizando-se de organismos artificiais.

A geoengenharia é basicamente uma estratégia que engloba várias tecnologias – inclusive biologia sintética e a nanotecnologia – para intervir em larga escala nos oceanos e na atmosfera, e está sendo proposta para lidar com a mudança climática. Os cientistas que estão trabalhando em projetos desse tipo alegam que é impossível reverter as mudanças climáticas a menos que consideremos utilizar a geoengenharia. Isso está sendo proposto de duas maneiras diferentes: uma é diminuir a quantidade de luz solar que chega à Terra, por meio de uma estratégia chamada de gestão da radiação solar. A ideia é bloquear a luz do sol bombardeando a estratosfera com sulfatos, para simular o que acontece quando um vulcão entra em erupção. Alguns pesquisadores alegam que é possível construir enormes ‘tubos’ com cerca de 25 quilômetros de altura, que ficariam espalhados por todo o mundo bombardeando a atmosfera com sulfatos e fazendo com que a temperatura se estabilizasse. A segunda estratégia de geoengenharia é a fertilização oceânica: a proposta é escolher uma parte do oceano que seja pobre em nutrientes, como ferro e uréia, e despejar nanopartículas desses nutrientes para criar uma proliferação de fitoplâncton [conjunto de organismos vegetais aquáticos microscópicos, principalmente algas]. Esse fitoplâncton absorveria o dióxido de carbono na atmosfera e quando morresse afundaria ficaria depositado no solo marítimo. Desde 1993 já foram conduzidos 13 experimentos desse tipo em todo o mundo, financiados principalmente por governos de países como os EUA, Inglaterra e Alemanha. E todos foram um fracasso, mas eles continuam tentando, cada vez gastando mais do que antes.

Quem está investindo nessas tecnologias?

A nanotecnologia já conta com investimentos pesados, principalmente de governos como o dos EUA, Japão, Reino Unido e China. Somados, esses países gastaram em torno de US$ 50 bilhões em pesquisa em nanotecnologia desde 2001, apenas em pesquisa básica. Comparativamente, é mais dinheiro do que foi investido noProjeto Manhattan, que criou a primeira bomba atômica. Inicialmente, a maior parte desses gastos vinha dos governos, mas por volta de 2007 o setor privado começou a superá-los. E os investimentos vêm de empresas da área de energia, mineração, química, informática. Como exemplos de corporações que estão investindo nisso posso citar a Nestlé, a Monsanto, a Syngenta, entre outras. Os investimentos do setor privado em nanotecnologia já andam na casa dos US$ 7 bilhões anuais em pesquisa básica. Também impressiona o nível de investimentos destinados à biologia sintética. As maiores companhias petrolíferas, como Exxon e Shell, investiram maciçamente nessa área. Só a Exxon investiu US$ 600 milhões em uma empresa de biologia sintética no ano passado. O governo dos EUA investiu US$ 1 bilhão em pequenas empresas desse setor em 2010.

Já os gastos com geoengenharia ainda podem ser considerados modestos. Isso pode ser explicado pelo fato de que, no ano passado, a Convenção de Diversidade Biológica das Organizações das Nações Unidas estabeleceu uma moratória sobre os experimentos em geoengenharia que poderiam acarretar consequências que ultrapassassem as fronteiras dos países ou que tivessem efeitos de larga escala. Apenas pequenos experimentos foram permitidos. Essa determinação foi assinada por 193 países. Na verdade, existem duas moratórias contra a geoengenharia: a primeira foi colocada pela ONU em 2008 contra experimentos com fertilização oceânica. No ano seguinte, a Alemanha conduziu experimentos que violaram essa moratória e causou uma onda enorme de protestos, inclusive no próprio país, e desde então eles resolveram parar. Em 2010, essa moratória foi estendida para abranger também a gestão da radiação solar. Mas elas não impedem que os governos tentem fazer experimentos, desde que sejam em pequena escala. Já a biologia sintética e a nanotecnologia não estão submetidas a nenhum tipo de regulação praticamente.

O uso dessas técnicas como solução para os problemas ambientais possui credibilidade no meio acadêmico?

Muita. Se você olhar quem ganhou os últimos prêmios Nobel em física e em química, a maioria desses pesquisadores trabalha com nanotecnologia e biologia sintética. Todas as maiores universidades do mundo estão envolvidas nisso: Oxford, Cambridge, Harvard, MIT, Stanford. E não há debates acerca dos riscos envolvidos nessas tecnologias, há um consenso no meio acadêmico de que elas têm um enorme potencial. Ninguém está discutindo os riscos ambientais e para a saúde envolvidos no uso indiscriminado dessas tecnologias, não há nenhuma regulação. Também acho que há um risco relacionado ao potencial de transformar a economia global, porque não se sabe quem teria o controle sobre essas transformações, quem seria o dono dessas tecnologias. A Academia Nacional de Ciências dos EUA, a Sociedade Real no Reino Unido e outras instituições alemãs já produziram relatórios a respeito da geoengenharia. Todas dizem a mesma coisa: é extremamente perigoso e é um último recurso, mas devem ser feitos experimentos porque há a possibilidade de que não se consiga encontrar outra solução.

O sr. afirma que a proposta de utilizar essas tecnologias obedece a critérios políticos, e não científicos. O que quer dizer com isso?

Há uma suposição de que é possível usar a geoengenharia de maneira segura. Só que no momento que você a propõe como solução, os políticos podem alegar que não é preciso reduzir nossa emissão de gases causadores de efeito estufa e transformar nossas economias. Basta jogar sulfatos na estratosfera ou fertilizar a superfície dos oceanos que tudo ficará bem. No momento em que se diz que a geoengenharia é aceitável, ela deixa de ser uma questão científica e se torna uma questão política. E não dá para acreditar que os mesmos políticos que não tiveram coragem para tratar da questão climática até agora terão a integridade e a inteligência para utilizar a geoengenharia de maneira segura. E isso é verdade também para a biologia sintética e a nanotecnologia. Não há capacidade em nível global – como, por exemplo, dentro da ONU – para monitorar e avaliar novas tecnologias.

No caso da nanotecnologia, devido ao tamanho reduzido das partículas e ao fato de que as características dos materiais mudam muito, é necessário uma regulação especial, e os governos não têm implementado isso. Fui conversar com agências reguladoras nos EUA e na Europa e todas dizem que não têm como exercer maior regulação sobre a nanotecnologia e a biologia sintética até que haja um grande acidente envolvendo uma das duas. Os governos já investiram demais nessas tecnologias para desistir agora. Os reguladores sabem que estão de mãos atadas porque essa é uma questão política.

Isso viola o princípio da precaução, uma das principais conquistas da Rio 92, que diz que se não se sabe ao certo se uma tecnologia é segura, a precaução sugere que ela não seja usada até que se saiba mais. Só que, em 1993, os dois órgãos da ONU que tinham alguma competência para avaliar novas tecnologias foram praticamente ou completamente dissolvidos: a Comissão de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento, que ocupava um prédio inteiro em Nova York, perdeu tantos recursos que hoje não passa de duas pessoas em uma sala no prédio das Nações Unidas em Genebra. Também em 1993 houve a dissolução da Comissão sobre as Empresas Transnacionais, que era o único órgão da ONU que monitorava o setor privado em nível global e as transferências de tecnologias entre empresas privadas. Essa teve seu orçamento cortado pelo governo dos EUA.

E quais os impactos envolvidos no emprego dessas tecnologias?

Com relação à nanotecnologia, uma grande preocupação é com as patentes que estão sendo concedidas, que de certa forma estão privatizando os elementos da tabela periódica. Por exemplo, você pode obter uma patente que se aplique a um fio produzido por meio de nanotecnologia a partir de qualquer um entre 33 elementos. Isso é como ser dono de um terço da tabela periódica. Ou então você obtém uma patente que diz que determinado produto usado na indústria eletrônica também se aplica à indústria farmacêutica, automobilística e assim por diante. Estamos falando de manipulação no nível mais básico da natureza e há grande possibilidade de que uma empresa monopolize um enorme pedaço da produção industrial.

Hoje é possível encontrar no mercado milhares de produtos que de alguma forma se utilizam da nanotecnologia. Filtros solares, cosméticos, roupas e outros produtos já usam nanopartículas. Mas há uma dificuldade na regulação porque as nanopartículas que estão sendo usadas são de materiais que historicamente eram usados na elaboração desses produtos. Um exemplo: hoje já é possível comprar filtros solares com nanopartículas de óxido de zinco em sua formulação, que são compostos que sempre foram usados, só que sem a utilização da nanotecnologia. Então os governos não exigem que as empresas refaçam os testes e nem regulam de maneira diferente. Mas quando você usa nanopartículas de um material ele se comporta de maneira completamente diferente. Particularmente, o óxido de zinco pode passar através da pele e ir parar nos nossos órgãos, e ninguém sabe ao certo os riscos que isso acarreta. Apenas nos últimos oito anos começaram a aparecer pesquisas que tentavam analisar o que acontece quando as nanopartículas penetram no organismo ou no meio ambiente. Todas elas dizem que há risco envolvido nisso e que é preciso fazer mais pesquisas.

Com a biologia sintética, se é verdade que um dia será possível fazer o que eles alegam, ou seja, manipular o DNA para ‘construir’ qualquer coisa em laboratório a partir de biomassa, provavelmente o que aconteceria é que as pessoas famintas de todo o mundo teriam que competir com a indústria pela terra para produzir biomassa. Eu sempre ouço de investidores de risco que apenas 23,8% de toda a produção terrestre anual de biomassa do planeta está inserida no mercado global de commodities, o que significa que 76,2% não foi convertido em valores monetários. Para esses investidores, essa produção não está ‘sendo usada’, mas na verdade elas desempenham funções importantes no equilíbrio dos ecossistemas, ou então servem como áreas de pastoreio e cultivo para populações tradicionais, por exemplo. Mas não estão no mercado, e o objetivo é encontrar uma forma de lucrar com isso.

Outro risco é a liberação no meio ambiente de organismos que não existem na natureza. É provável que quase todos sejam incapazes de sobreviver fora do laboratório, mas pode ser que consigam. É impossível prever a velocidade com que eles seriam capazes de sofrer mutações ou desenvolver a capacidade de se reproduzir e dar origem a algo novo. O que nós sabemos é que os laboratórios, por mais seguros que sejam, não garantem que esses organismos fiquem confinados. Tome-se o exemplo do vírus da febre aftosa. Nos últimos dez anos, houve 15 casos em que ele escapou de laboratórios pertencentes ao governo em todo o mundo.

Já a geoengenharia ainda é muito teórica. Em princípio, ela funciona, haja vista que a humanidade, depois da Revolução Industrial, foi capaz de causar modificações climáticas que nos levaram à crise atual. O que está sendo defendido agora é que não há escolha a não ser transformar o planeta uma segunda vez e tentar reverter esse quadro. O que preocupa é que essas técnicas podem ser bem desleixadas. Simplesmente lançar sulfatos na estratosfera pode ser extraordinariamente perigoso. Por exemplo, se isso fosse feito na zona temperada, poderia causar efeitos indesejados sobre as chuvas de monção, que deixariam de passar por sobre a Ásia e passariam sobre o oceano. O impacto disso seria uma enorme seca em alguns países. Nós não sabemos o suficiente sobre os fenômenos climáticos do planeta para conseguir utilizar a geoengenharia de maneira segura. Mesmo aqueles que endossam a geoengenharia dizem que ela é extremamente arriscada. A certeza é que haverá um grande impacto. Mas não se sabe ainda como a geoengenharia afetaria o regime de ventos, as correntes oceânicas, a quantidade de chuva, e isso pode ter um impacto enorme ao determinar o que pode ou não ser cultivado em determinados lugares e quem pode ou não habitar determinadas regiões.

Qual é a relação entre essas tecnologias e a Rio+20?

Os países do Norte estão pressionando pela adoção, na Rio+20, da ideia de que a melhor maneira para sair da crise é a economia verde, em que a biologia sintética e a nanotecnologia desempenhariam um papel central. O que eles querem é o reconhecimento de que uma nova economia baseada nessas tecnologias é ‘limpa’, é ‘verde’. ARio+20 será praticamente uma campanha por parte da Europa e América do Norte para tentar convencer o mundo de que essa é a solução para os nossos problemas. Eu estive no Brasil na época em que se falava da Teologia da Libertação, que defendia a participação da sociedade, dos movimentos sociais na busca por soluções para os problemas. O discurso agora para a Rio+20 é o da Tecnologia da Libertação, que advoga que a ciência e a tecnologia controladas pela indústria podem ‘tomar conta’ do planeta. Vende-se a ideia de que a solução de todos os problemas está na tecnologia, e não está.

E que análise o sr. faz do discurso da economia verde?

O discurso ambiental está sendo usado como uma oportunidade de criar novos mercados, com a financeirização da natureza. O sentimento por parte de alguns governos europeus é de que, com a crise, eles não têm dinheiro para preservar a natureza. Eles defendem que se há uma maneira de ganhar dinheiro preservando os ecossistemas, isso tornará a preservação ambiental atrativa, para que a natureza seja utilizada no mercado de compensação por emissões de carbono, por exemplo. Essa financeirização é vista como solução, mas ela está na origem da própria crise que estamos enfrentando. Tome-se o sistema de hipotecas do mercado imobiliário, que é um instrumento financeiro usado há séculos: pensava-se que os governos sabiam regular esse mercado e que a indústria sabia operá-lo, isso até 2007. Esse sistema deu origem a uma crise pela qual estamos pagando até hoje. E agora estão tentando nos convencer de que as mesmas pessoas que ‘desarrumaram’ nossa casa devem ter permissão para cuidar do jardim. E isso é ridículo. Enquanto estão ocupando Wall Street – e eu acho ótimo que estejam – Wall Street está tentando ocupar nossas florestas, nossos campos, nossa água e nossa atmosfera. E não podemos permitir que isso seja feito.

Mas você se diz otimista com relação a Rio+20. Por quê?

Porque os governos se prepararam mal para a Rio+20 e há muita controvérsia entre países do Norte e do Sul a respeito da economia verde. Acho que a sociedade civil pode desempenhar um papel significativo na Conferência, pela própria desorganização dos governos. Podemos chamar a atenção do mundo para a falsidade da economia verde, que é apenas retórica, não significa nada. Precisamos alertar para o perigo da geoengenharia. Nenhum país ou grupo de países do mundo tem o direito de se apoderar do termostato do planeta. Nós queremos um acordo entre os países de que a geoengenharia é muito perigosa para ser levada a cabo, e há uma boa chance de conseguirmos. Eu acho que também podemos obter na Rio+20 um entendimento mais amplo da biologia sintética e da nanotecnologia, de modo que a ONU, no mínimo, chegue à conclusão de que é preciso restabelecer um sistema de avaliação de tecnologias que seja transparente, que possibilite que todos nós possamos acompanhar o desenvolvimento de novas tecnologias desde o laboratório até o mercado, e que possamos interferir. E o mais importante é chamar a atenção da sociedade civil, porque nenhum acordo ou tratado entre países vale alguma coisa se a sociedade não estiver atenta. Mas também pode ser que a Rio+20 se torne um grande evento em que se chegue a um consenso entre os países, como se todos dissessem: ‘agora sim nós aprendemos com os erros do passado, agora entendemos o que precisamos fazer para implantar o desenvolvimento sustentável que foi proposto na Rio 92, ou seja, implantar uma ‘economia verde’ por meio do incentivo à novas tecnologias ‘limpas’”.

sábado, 7 de abril de 2012

SANTA CRUZ E A DEVOÇÃO NORDESTINA.

07/04/2012 | Jaime C. Patias

Peregrinação marca Sexta-feira Santa em Monte Santo na Bahia

Visitar o Santuário da Santa Cruz de Monte Santo situado no topo da Serra do Piquaraça, a uma altitude de 490 metros acima do nível do mar, é indispensável no roteiro de quem visita Monte Santo, cidade a 300 quilômetros de Salvador, Sertão da Bahia.

Na madrugada da Sexta-feira Santa, às 4:30hs, o som da "matraca" (instrumento que substitui o sino na Semana Santa), anuncia o início da subida da cruz. Os peregrinos caminham com pegadas firmes. Seus passos vencem escadas de pedra que a natureza e a intervenção do ser humano esculpiram para facilitar a escalada.
"Estou aqui por que tenho fé. Peço que Deus nos dê coragem e paz para o mundo e saúde pra nós todos", explica dona Darci Gonçalves. Alguns metros acima, Paulo Henrique se apoia no muro de proteção para retomar o fôlego. Ele veio do Rio de Janeiro agradecer por uma graça alcançada. Um jovem acende velas no pé da porta de umas das capelinhas na beira do caminho. Duas crianças andam apressadas, sem se importarem com a respiração ofegante dos mais velhos. Centenas de pessoas, de todas as idades, algumas descalças, seguem a mesma direção: a Santa Cruz.

O percurso que inicia na Rua Senhor dos Passos, há 300 metros da igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus, é composto por 25 capelinhas e igrejas, sendo a das Almas, a do Senhor dos Passos, a de Nossa Senhora das Dores e o próprio Santuário da Santa Cruz, as principais. Outras 15 capelinhas são dedicadas às estações da Via-Sacra. No meio do caminho, um monte de pedra simboliza a sepultura de Jesus. O conjunto é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Ministério de Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Ministério de Cultura. As capelas abrigam a coleção de ex-votos ofertados por romeiros ao longo de dois séculos, imagens de devoção popular e quadros com pinturas alusivas às dores de Nossa Senhora e ao martírio de Jesus.

O lugar foi visitado pela primeira vez pelo frei capuchinho Apolônio Toddi, proveniente da região de Euclides da Cunha. Em 1775, o frei realizou uma procissão penitencial no cume do monte onde foi plantado um cruzeiro. À medida que subiam, os fiéis iam plantado cruzes de madeira a espaços regulares seguindo uma ordem. A primeira dedicada às almas, as sete seguintes representando as dores de Nossa Senhora e as catorze restantes, para lembrar os sofrimentos de Jesus. A partir de então o lugar passou a se chamar Monte Santo. Mais tarde, no lugar das cruzes foram construídas capelas e o Santuário.

Veneração
Em especial na Sexta-feira Santa e na festa de Todos os Santos, dia 1º de novembro, os fiéis se comprimem nas três voltas em torno do Santuário, em veneração à SS. Trindade. Apenas um pequeno espaço separa a parede do templo e o muro de contenção. Após acender velas e fazer orações, começa a procissão de descida com as Imagens de Nossa Senhora da Soledade, São João Evangelista e Jesus Morto. São levadas com devoção pelos irmãos da Irmandade do SS. Coração de Jesus, confraria ligada à Coroa Portuguesa. Hoje, em Monte Santo ela conta com 42 membros encarregados da limpeza do Santuário e da organização dos festejos na cidade.

Na descida, à frente vai a Cruz carregada há 45 anos pelo senhor Salveano Joaquim dos Reis, 64 anos. "Meu pai já carregava a cruz. É uma fé que tenho no meu coração e estou fazendo a vontade do meu pai Eterno. Já recebi duas graças para a minha família. Este ano peço muita paz e que Deus termine com a violência no mundo que está matando a nossa juventude, que acabe com as drogas e ilumine os passos de cada um neste país", pede o devoto.
Francisco Xavier da Silva veio da roça com a família para participar das celebrações. "A gente pede que Deus dê saúde a todos. Já fiz promessa e cumpri", fala aliviado.

Logo mais está Everaldo da Silva Santos, 30, com a Imagem de São João Evangelista. "Isso vem dos mais velhos, meu pai faleceu e agora eu carrego no seu lugar. Faço isso por prazer. Com certeza isso dá muita força e traz graças. A gente pede pra perdoar e para que os jovens sigam mais a religião", destaca enquanto passa a Imagem para os colegas. Dona Rogéria Zélia Santos, rezava o terço por que, segundo ela, "é o dia da crucificação do Senhor Jesus". Também ela pede saúde e paz para todos.

No pé do Monte, a procissão é recebida por uma bandinha e centenas de fiéis para percorrer as ruas da cidade. Além das cerimônias litúrgicas propostas pela Igreja para a Semana Santa, assolado por uma grave seca, o povo realiza várias procissões carregando imagens pelas ruas da cidade. A Sexta-feira Santa é o dia mais concorrido. Os momentos mais significativos são a procissão do Senhor dos Passos, o encontro de Jesus com sua Mãe, Nossa Senhora das Dores, o Cântico de Verônica em latim e o sepultamento do Senhor.

Páscoa jovem
Nestes dias, a cidade também acolhe a Páscoa Jovem, encontro promovido pelos missionários e missionárias da Consolata na Bahia e que reúne, este ano, 70 jovens de Salvador, Feira de Santana, Jaguarari e Monte Santo para uma experiência de Páscoa ao estilo juvenil.

A paróquia de Monte Santo conta com cerca de 140 comunidades espalhadas pelo interior do município e é assistida pelos missionários da Consolata, os padres Vidal Moratelli, Olivaldo Lima e Stanley Muriuki e o diácono James Mwaura.

Fonte: Revista Missões

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Dionísia: mulher forte do Sertão

02/04/2012 | Jaime C. Patias

A história de uma mulher da roça, que completou 112 anos.

O povoado de Barreira - Pedra Vermelha, no interior de Monte Santo, a 300 quilômetros de Salvador, se reuniu no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, para celebrar os 112 anos de dona Dionísia, símbolo da resistência no sertão. A neta, Martinha das Neves Nascimento, se encarregou de resgatar a história da mulher mais idosa da região.

Dionísia Maria de Jesus, filha de Domingos Andrade e Ana Maria de Jesus, moradores da fazenda Serra do Lopes- Monte Santo, foi registrada no dia 8 de março de 1906; casou-se com José Jesus das Neves com quem teve 14 filhos (uma menina faleceu ainda pequena, outra faleceu já mãe e 12 filhos estão vivos).

Hoje Dionísia é viúva e vive com uma das filhas. Tem 102 netos vivos, mais ou menos 245 bisnetos e 46 trinetos. Ela teve uma vida muito difícil, chegando até a passar fome com seus filhos. Ela conta que na grande seca de 1932 já tinha três filhos e estava "com o barrigão" para ter outro. O marido José ia trabalhar de diarista na roça dos fazendeiros e com o dinheiro da diária no valor de R$ 2,00 contos de réis, comprava dois quilos de farinha. Enquanto isso Dionísia ficava em casa com os filhos sem ter nada para comer, só água. Então ela pegava as crianças, um machado, uma enxada e ia para a roça cortar ouricurizeiro, planta típica do sertão, da qual tirava o palmito e dava para as crianças comerem. Elas comiam o palmito, tomavam água e depois iam brincar, enquanto ela limpava a plantação de mandioca. Às 11h00 pegava o machado cortava o tronco do ouricurizeiro, levava para cima de uma laje, rachava e batia até soltar o bró, uma espécie de farinha. Depois voltava para casa com as crianças, mexia a farinha do bró no caco e fazia um bolo. As crianças comiam o bolo de bró até ficarem satisfeitas. À noite elas iam dormir sossegadas.

Quando o marido chegava à noite, perguntava: - "Cadê as crianças? Já morreram de fome?"
Ela respondia: - "não, já estão dormindo".
- "E o que comeram?"
- "Comeram palmito, bró e tomaram água e estão com a barriga cheia".
Então o pouco de farinha que José trazia ficava para o dia seguinte quando era servida com o pirão de caças.
Por isso Dionísia afirma que uma de suas filhas foi "gerada no bró, nasceu no bró e cresceu no bró".

Nesse longo período difícil, seus irmãos pegaram a estrada e foram para outras terras em busca de melhores condições, deixando para trás seus velhos pais. Mas ela falava confiante:
"Aconteça o que acontecer, eu não deixarei meus pais". E cuidou deles até o fim da vida. Ela afirma que ainda está viva porque nunca abandonou seus pais, enquanto seus irmãos já morreram todos, só tem ela para contar a história.

Para a neta Martinha das Neves, professora em Barreira, a avó Dionísia é uma grande mulher que enfrentou vários serviços para sustentar seus filhos, chegando até a trabalhar de diarista, limpando terra.
"Com toda essa garra, hoje ela nos transmite muita experiência de vida, amor e sabedoria. Digo isso porque aprendemos muito com seus exemplos, ela nunca frequentou escola, mas a escola da vida lheensinou muitas atividades. Foi uma grande artesã. Fazia redes, com algodão, fiava linhas e ela mesma tecia suas redes, uma de suas especialidades. Com o barro fazia vários objetos: panelas, potes, tigelas (aribés). Com a palha do ouricurizeiro confeccionava esteiras, sacolas e chapéus, o que até hoje faz com muita eficiência, só para dar de brinde a familiares e amigos. Outra função que ela exerceu por muitos anos, foi a de parteira, milhares de crianças nasceram com a ajuda dela, foram muitos partos, alguns deles em situação difícil, mas com ajuda de Deus, a medicina natural, suas orações e muita fé no Senhor do Bonfim e Nossa Senhora das Dores, santos de devoção, foi sempre bem sucedida. Ela também foi uma excelente benzedeira, nos casos de mau olhado e dores, era sempre procurada.

Por isso é muito bem merecida esse dia especial que Deus nos concedeu (seu aniversário). Além de ser mãe, avó, bisavó, trisavó, Dionísia é também a mãe de muitas crianças que ajudou a vir ao mundo. E com o passar de tantos anos ela ainda continua forte, bonita e lúcida, cheia de vida, o que chega a dar inveja em qualquer pessoa.

É por este motivo que hoje estamos aqui para agradecer e louvar por esta grande bênção. Que Deus lhe dê muita saúde para que viva ainda muitos anos e para nos dar essa alegria de estarmos juntos por muito tempo".

Certa feita, Dionísia, com um bebê ao colo foi pedir leite a um vizinho. Este negou e ela seguiu o seu caminho. Ao regressar, ficou sabendo que a vaca havia derrubado o balde com um coice. Esse fato negativo marcou a sua vida e gerou nela o extinto de solidariedade.

Contra um conceito vulgar do dom da vida, dona Dionísia é o símbolo da luta pela conservação geradora de muitas vidas. No sertão onde as dificuldades e o sofrimento são maiores, ela representa a mulher resistente, que jamais desiste.

Fonte: Revista Missões

2025- Créditos de Carbono para Quem?

Aliança RECOs
Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras

“....Sem regras claras, esse mercado compensa emissões de gases de efeito estufa por grandes empresas poluidoras, sobretudo na Europa, além de negociar as cotações desses créditos. Na Amazônia, vem provocando assédio a comunidades indígenas e a proliferação de contratos nebulosos semelhantes ao fechado com os mundurucus. A Fundação Nacional do Índio (Funai) registra mais de 30 contratos nas mesmas bases. Só a Celestial Green afirmou ao Estado ter fechado outros 16 projetos no Brasil, que somam 200 mil quilômetros quadrados. Isso é mais de duas vezes a área de Portugal ou quase o tamanho do Estado de São Paulo. A terra dos mundurucus representa pouco mais de 10% do total contratado pela empresa, que também negociou os territórios Tenharim Marmelos, no Amazonas, e Igarapé Lage, Igarapé Ribeirão e Rio Negro Ocaia, em Rondônia. ...”

Por milhões de dólares, índios vendem direitos sobre terras da Amazônia

Por US$ 120 milhões, empresa irlandesa comprou direitos, incluindo biodiversidade, de 16 áreas com o dobro do tamanho de Portugal por 30 anos, proibindo índios de plantar ou extrair madeira; acordo teria sido assinado sem consentimento da maioria

10 de março de 2012 | 20h 04

Marta Salomon - O Estado de S. Paulo

Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: http://www.estadao.com.br/fotos/munduruku_luisfernandosadek_socioambiental_288_212.jpg

Por US$ 120 milhões, índios da etnia mundurucu venderam a uma empresa estrangeira direitos sobre uma área com 16 vezes o tamanho da cidade de São Paulo em plena floresta amazônica, no município de Jacareacanga (PA). O negócio garante à empresa “benefícios” sobre a biodiversidade, além de acesso irrestrito ao território indígena.

No contrato, a o qual o Estado teve acesso, os índios se comprometem a não plantar ou extrair madeira das terras nos 30 anos de duração do acordo. Qualquer intervenção no território depende de aval prévio da Celestial Green Ventures, empresa irlandesa que se apresenta como líder no mercado mundial de créditos de carbono.

Sem regras claras, esse mercado compensa emissões de gases de efeito estufa por grandes empresas poluidoras, sobretudo na Europa, além de negociar as cotações desses créditos. Na Amazônia, vem provocando assédio a comunidades indígenas e a proliferação de contratos nebulosos semelhantes ao fechado com os mundurucus. A Fundação Nacional do Índio (Funai) registra mais de 30 contratos nas mesmas bases.

Só a Celestial Green afirmou ao Estado ter fechado outros 16 projetos no Brasil, que somam 200 mil quilômetros quadrados. Isso é mais de duas vezes a área de Portugal ou quase o tamanho do Estado de São Paulo.

A terra dos mundurucus representa pouco mais de 10% do total contratado pela empresa, que também negociou os territórios Tenharim Marmelos, no Amazonas, e Igarapé Lage, Igarapé Ribeirão e Rio Negro Ocaia, em Rondônia.

‘Pilantragem.’ “Os índios assinam contratos muitas vezes sem saber o que estão assinando. Ficam sem poder cortar uma árvore e acabam abrindo caminho para a biopirataria”, disse Márcio Meira, presidente da Funai, que começou a receber informações sobre esse tipo de negócio em 2011. “Vemos que uma boa ideia, de reconhecer o serviço ambiental que os índios prestam por preservar a floresta, pode virar uma pilantragem.”

“Temos de evitar que oportunidades para avançarmos na valorização da biodiversidade disfarcem ações de biopirataria”, reagiu a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

O contrato dos mundurucus diz que os pagamentos em dólares dão à empresa a “totalidade” dos direitos sobre os créditos de carbono e “todos os direitos de certificados ou benefícios que se venha a obter por meio da biodiversidade dessa área”.

Territórios indígenas estão entre as áreas mais preservadas de florestas tropicais. Somam mais de 1 milhão de quilômetros quadrados e a maioria deles está na Amazônia. Para empresas que trabalham com mecanismos de crédito de carbono, criado entre as medidas de combate ao aquecimento global, as florestas são traduzidas em bilhões de toneladas de gases estufa estocados e cifras agigantadas em dólares.

Benedito Milléo Junior, agrônomo que negocia créditos de carbono de comunidades indígenas, estima em US$ 1 mil o valor do hectare contratado. A conta é feita com base na estimativa de 200 toneladas de CO2 estocada por hectare, segundo preço médio no mercado internacional.

Milléo diz ter negociado 5,2 milhões de hectares, mais que o dobro do território dos mundurucu. Nesse total está contabilizado o território indígena Trombetas-Mapuera (RR), que fechou contrato com a empresa C-Trade, que também atua no mercado de crédito de carbono.

Segundo ele, a perspectiva é de crescimento desse mercado, sobretudo com a regulamentação do mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (Redd).

Sem receber. Os mundurucu ainda não começaram a receber o dinheiro pela venda de direitos sobre seu território. Os pagamentos acordados, em 30 parcelas iguais de US$ 4 milhões, serão feitos até o último dia do ano, entre 2012 e 2041. As regras constam do contrato assinado pelo presidente da Associação Indígena Pusuru, Martinho Borum, e o diretor da Celestial Green, João Borges Andrade. As assinaturas foram reconhecidas no cartório de Jacareacanga.

“Não poderemos fazer uma roça nem derrubar um pé de árvore”, criticou o índio mundurucu Roberto Cruxi, vice-prefeito de Jacareacanga, que se opôs ao acordo. Ele disse o contrato foi assinado por algumas lideranças, sem consentimento da maioria dos índios. “A empresa convocou uma reunião na Câmara Municipal;eles disseram que era bom”, conta.

Em vídeo na internet, uma índia mundurucu ameaça o diretor da Celestial Green com uma borduna. “Pensa que índio é besta?”, gritou ela na reunião da Câmara, lembrando a tradição guerreira da etnia.

O principal executivo da Celestial Green, Ciaran Kelly, afirma todos os contratos da empresa com comunidades indígenas passam por um “rigoroso processo de consentimento livre, prévio e informado”, segundo normas internacionais.

domingo, 1 de abril de 2012

2022- MÍDIA

Aliança RECOs
Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras

“........ Amyra El Khalili, fez críticas contundentes as empresas privadas que utilizam as causas ambientais como marketing. "Precisamos colocar em primeiro lugar o humano, o ambiente. Não o produto ou lucro da empresa. A empresa só 'esverdeia' o capital e chama isso de 'marketing verde'", condenou. Logo após, Amyra citou como referência a participação que teve na revista da ESPM com a pauta "Sustentabilidade: há sinceridade nisso?". E explica que "se a escola que é referência dos publicitários duvida da sinceridade destas palavras nas propagandas de marketing, ninguém deveria acreditar."...”

“...No segundo painel, sobre Educação Ambiental e a conscientização pública para a preservação, Apolo Heringer Lisboa - representante do Projeto Manuelzão - foi o primeiro a se pronunciar. Para ele , a sociedade moderna é a causadora dos danos, foi dela que partiu a cultura errada de não preservação da natureza "Não foram os índios que poluíram o rios, e sim os engenheiros!", contestou. ....”

“...A próxima palestrante foi a Gerente Nacional de Meio Ambiente da Caixa Econômica Federal, Maria Luisa Alvim Motta. De acordo com ela, 2% dos lucros da Caixa são revertidos em projetos ambientais - no ano de 2010, foram 38,7 milhões. Entre eles, está a despoluição do Rio Sorocaba com 7 estações de tratamento. ...Além disso, a Caixa também cria incentivos para que as empresas estejam em conformidade com as leis das práticas sócioambientais. Empréstimos acima de 10 milhões só serão autorizados com vistoria e adequação prévia. Assim como os imóveis - que representam 21% do consumo de água - só poderão ser financiados se não apresentarem nenhum tipo de consumo excessivo de recursos hídricos e energéticos...”

Portal da ESPM de Jornalismo

Produção dos alunos de Jornalismo da ESPM-SUL

A tarde em PAUTA

II Figa aborda importância da preservação da água

Escrito por Carolina Hickmann (1º semestre)

Sex, 23 de Março de 2012 18:43

Simultaneamente ao Dia Internacional da Água, ocorreu o segundo Fórum Internacional de Gestão Ambiental - II FIGA. O evento teve como tema "Água e Comunicação: uma relação vital". A iniciativa foi realizada na Assembleia Legislativa de Porto Alegre, nos dias 21, 22 e 23 março.

No dia 22 de março, o primeiro painel da tarde foi sobre as responsabilidades socioambientais das empresas na gestão das águas. Os painelistas ressaltaram a importância de utilizar de maneira sábia os recursos naturais e promover o esclarecimento sobre estes.

A Fundadora da Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais, Amyra El Khalili, fez críticas contundentes as empresas privadas que utilizam as causas ambientais como marketing. "Precisamos colocar em primeiro lugar o humano, o ambiente. Não o produto ou lucro da empresa. A empresa só 'esverdeia' o capital e chama isso de 'marketing verde'", condenou. Logo após, Amyra citou como referência a participação que teve na revista da ESPM com a pauta "Sustentabilidade: há sinceridade nisso?". E explica que "se a escola que é referência dos publicitários duvida da sinceridade destas palavras nas propagandas de marketing, ninguém deveria acreditar."

Quando questionada sobre como uma empresa privada poderia fazer uma gestão ambiental sem ser para seu proveito próprio, Amyra respondeu que somente "seria possível se a empresa desse ouvidos somente a comunidade e não a uma empresa de marketing. Imagem deveria ser consequência, e jamais meta." A economista também defendeu que para a construção de uma economia socioambiental, é necessária uma nova consciência para o mercado, fazendo este ter a base forte na educação, comunicação e informação.

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Painelistas ressaltaram a importância de utilizar de maneira sábia os recursos naturais/Foto: Carolina Hickmann

O Gerente de Qualidade e Meio-Ambiente da Celulose Riograndense Ltda, Clóvis Zimmer, disse que hoje a empresa está presente em 41 municípios com seus hortos florestais. Contou que a meta da empresa é produzir mais com menos recursos. E um dos principais insumos da empresa é a água. A empresa utiliza o conceito de Fábrica de Mínimo Impacto, usando tecnologias de baixo consumo de água, de tratamento de afluentes de alta performance e também estabelecendo indicadores para monitoramento. Com estes cuidados, a redução do uso de água foi de 33%.

Já a Fundadora da ONG Associação Amigos do Futuro, Rejane Pieratti, trouxe dados alarmantes. Como o fato de 2 bilhões de pessoas não disporem de água potável. A estimativa da ONU é mais preocupante ainda. Segundo a Organização das Nações Unidas dentro de 25 anos este número irá dobrar. Além disso, 30% das Bacias Hidrográficas já perderam mais da metade da cobertura vegetal original, o que faz com que a água da chuva escoe pela superfície não permitindo o armazenamento no lençol freático.

Segundo Rejane, é da cultura popular pensar de forma imediatista. "Do rio eu tiro o que preciso e rio abaixo eu jogo o que não precisarei mais". Ela alerta que é necessário mudar este pensamento imediatamente e ressalta que só será possível com a ajuda dos veículos de Comunicação e profissionais da área educacional "A sociedade precisa entender o seu poder e executá-lo", explicou.

A próxima palestrante foi a Gerente Nacional de Meio Ambiente da Caixa Econômica Federal, Maria Luisa Alvim Motta. De acordo com ela, 2% dos lucros da Caixa são revertidos em projetos ambientais - no ano de 2010, foram 38,7 milhões. Entre eles, está a despoluição do Rio Sorocaba com 7 estações de tratamento.

Além disso, a Caixa também cria incentivos para que as empresas estejam em conformidade com as leis das práticas sócioambientais. Empréstimos acima de 10 milhões só serão autorizados com vistoria e adequação prévia. Assim como os imóveis - que representam 21% do consumo de água - só poderão ser financiados se não apresentarem nenhum tipo de consumo excessivo de recursos hídricos e energéticos.

No segundo painel, sobre Educação Ambiental e a conscientização pública para a preservação, Apolo Heringer Lisboa - representante do Projeto Manuelzão - foi o primeiro a se pronunciar. Para ele , a sociedade moderna é a causadora dos danos, foi dela que partiu a cultura errada de não preservação da natureza "Não foram os índios que poluíram o rios, e sim os engenheiros!", contestou.

Apolo também criticou o egocentrismo do homem, que chega ao ponto de esquecer que não se pode viver se não for integradamente com todas as demais espécies e com total respeito ao planeta. "O espelho d'água mostra a nossa cara", afirmou.

A presidente do Instituto de Estudos Culturais e Ambientais - IECAM, Denise Wolf, desenvolve projeto com aldeias Guaranis no Rio Grande do Sul. Contou que há similaridades entre a cultura Guarani e as metas da Educação Ambiental, como a relação de respeito a natureza, visão sistêmica e valores humanos. Defendeu que por estas similaridades eles não querem desenvolvimento e sim sustentabilidade, argumentando que é necessário haver respeito às especificidades culturais, as diferentes demandas e as realidades locais. "Sustentabilidade para eles é algo espiritual, não material".

Última atualização em Sex, 23 de Março de 2012 18:57

II FIGA discute gestão das águas

Escrito por Marcelo Farina (3º semestre)

Sex, 23 de Março de 2012 16:59

O II Fórum Internacional de Gestão Ambiental (FIGA), promovido pela Associação Riograndense de Imprensa, trouxe o tema “Água e Comunicação: Uma relação vital”. A escassez de água e o papel dos meios de comunicação em sua preservação foram debatidos por especialistas em evento realizado na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, dos dias 21 a 23. O primeiro painel foi “Gestão de recursos hídricos no Rio Grande do Sul”, que apontou as falhas da administração pública com os recursos naturais.

Os palestrantes da ocasião foram: O Promotor do Ministério Público (MP), Alexandre Saltz; O Analista Ambiental do IBAMA, Tarso Izaía; A geógrafa da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Elaine Regina Oliveira dos Santos; O Major do Comando Ambiental da Brigada Militar, João José Corrêa da Silva.

Alexandre Saltz iniciou agradecendo a oportunidade recebida pela ARI e salientou o papel da imprensa para a conscientização da sociedade. “O jornalismo tem responsabilidade na construção de um futuro melhor. Esse evento reforça a proximidade que há entre o setor da comunicação e o do meio-ambiente”. Ele reiterou que são necessárias atitudes e não apenas discursos. “Tem muita gente que repete a mesma coisa. Tem que acreditar naquilo que se fala. Eu acredito”, afirmou.

Saltz reclamou do fato de as leis ambientais não serem levadas a sério. “Pessoas querem flexibilizar leis de direito ambiental, mas ninguém fala em flexibilizar seus próprios direitos. Isso é um egoísmo social muito grande”, concluiu. Ele reiterou diversas vezes que o governo deveria interferir mais na questão e se questionou. “É possível recuperar o Arroio Dilúvio e o Rio dos Sinos? Pelos meios tecnológicos que temos sim. O que falta é vontade política”, criticou. Para Alexandre, a escassez de água vem avançando de geração em geração e não deve ser encarada como fenômeno da natureza. “O problema não é a falta de chuva e sim a gestão. São poucas as políticas públicas que incentivam a preservação da água quando ela é escassa. Não há atuação afetiva. Não é uma questão jurídica e sim sociocultural. A origem é a falta de gestão”, reafirmou.

Descrição: Descrição: Descrição: Especialistas debatem sobre gestão das águas/Foto: Carolina Hickmann

Especialistas debatem sobre gestão das águas/Foto: Carolina Hickmann

A segunda a palestrar foi a geógrafa Elaine Regina Oliveira dos Santos, que também não poupou os atuais modelos de gestões hídricas e orientou todos a economizarem. “A lei estabelece que a água é um recurso natural. Para fazer gestão, temos de saber que em determinadas épocas do ano, ela não vai estar tão disponível”, alertou. Elaine acredita que o povo deveria fiscalizar mais a administração dos bens naturais. “A sociedade tem voz para falar, opinar, aprovar ou não a gestão das águas”, salientou.

O próximo especialista a se pronunciar foi o Superintendente do IBAMA, Tarso Izaía. Ele reforçou a tese de que a água deve ser bem gerida por todos os cidadãos. “Ela pertence ao poder público. Sua gestão tem de ser descentralizada e participativa. Precisamos eliminar hegemonias de setores. A participação da sociedade nos comitês tem poder decisório”, avaliou. O futuro desse recurso deve ser a pauta das ações do estado. “Nossas políticas públicas não podem deixar de lado algumas consequências que ainda não estão acontecendo”, declarou.

O Major do Comando Ambiental da Brigada Militar, João José Corrêa da Silva, foi o último do painel a se manifestar. Ele explicou as ações que sua corporação promove na tentativa de salvar o ambiente. “O nosso trabalho é de educação ambiental e fiscalização. 50% para cada lado. A polícia ostensiva tem como objetivo preservar as gerações futuras”, relatou. O Major afirmou que o batalhão criou uma metodologia de trabalho de campo, apenas para reparar crimes ambientais.

Terminadas todas as apresentações, foi aberto um espaço para que os palestrantes respondessem a perguntas da plateia. Adelaide Pinto, educadora ambiental, concorda com as visões expostas no painel. “Foram muito valiosas as observações dos convidados. É exatamente isso. Temos que cuidar da água, porque daqui a pouco podemos não tê-la mais”, entendeu.

Última atualização em Sex, 23 de Março de 2012 17:27


Presidente da Assembleia fala sobre gestões hídricas

Escrito por Marcelo Farina (3º semestre)

Sex, 23 de Março de 2012 18:36

O II Fórum Internacional de Gestão Ambiental (FIGA) promoveu a Conferência Gestão dos Recursos Hídricos no Rio Grande do Sul com o Presidente da Assembleia Legislativa do estado, Alexandre Postal. O deputado fez um discurso em defesa do consumo racional de água e sintetizou a importância do Fórum para a sociedade.

O deputado assumiu a responsabilidade do governo pela preservação da água e admitiu dificuldades enfrentadas. “O estado é detentor do domínio das águas e compartilha isso com a população. Não há mais como retirar do nosso calendário a ocorrência de estiagem ou seca. Em 2005 ou 2006, trouxeram perdas implacáveis”, destacou. Postal citou compromissos que ainda estão pendentes. “Faz parte do papel de nossos administradores, a pauta tão conhecida que é o saneamento básico”, afirmou. Ele também disse que o número de esgotos tratados ainda é muito baixo no país.

O Presidente da Assembleia Legislativa também ressaltou a abundância de recursos naturais existentes no país. “O Brasil é o país mais rico em recursos hídricos. O segundo é a Rússia, que tem o equivalente a 55% das águas brasileiras”, relatou.

Descrição: Descrição: Descrição: Descrição: Presidente da Assembleia, Alexandre Postal, discursa no II FIGA/Foto: Carolina Hickmann

Presidente da Assembleia, Alexandre Postal, discursa no II FIGA/Foto: Carolina Hickmann

O deputado falou sobre o Código de Meio Ambiente e algumas outras iniciativas do estado de preservação. Ele também salientou a importância dos veículos de comunicação nesse sentido. “Disseminação das informações. A mídia tem o principal papel. Deve orientar a sociedade”.

Segundo dia do Fórum Internacional de Gestão Ambiental discute a Comunicação

Fotos: Marcio de Almeida Bueno
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Mesa de abertura contou com dois comunicadores internacionais

O painel 'O uso de novas linguagens de Comunicação na luta pelo meio ambiente' abriu o segundo dia do Fórum Internacional de Gestão Ambiental - Água e Comunicação: Uma relação vital, na Assembleia Legislativa do RS. O primeiro a falar foi o jornalista uruguaio Hernán Sorhuet Gelós, do El País, que narrou sua experiência na cobertura de questões ambientais naquele país. Luiz Antonio Grassi apresentou o projeto e as razões para construção do futuro Museu das Águas de Porto Alegre, e aplicações semelhantes existentes em outros países. Já o cineasta alemão Philipp Hartmann fez uma abordagem semiótica, apresentando o tema água nas artes plásticas, literatura e cinema, como significado de vida, morte, passagem e destruição, entre outros. A moderação foi do jornalista Juarez Tosi, do Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul.

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Presidente do Sindicato, ao centro, foi o moderador do segundo painel

Às 10h30min teve início o segundo painel do dia, 'A Comunicação entre os órgãos de gestão da água e a sociedade', mediado pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul, José Maria Rodrigues Nunes. "O meio ambiente passa ao largo das grande mídias. Hoje é o Dia Mundial da Água, e isso só foi lembrado pelo principal veículo do RS com um anúncio de rede de supermercado. Se não tivessem pago o comercial, toda a população que lê esse jornal não saberia que hoje é Dia Mundial da Água", apontou Nunes em sua fala de abertura. Angélica Ritter apresentou o trabalho da equipe de Comunicação do DMAE, com boletins, site, redes sociais, visitas e publicações, exibindo uma animação institucional sobre o tratamento da água. Do Ceará veio Vicente Barbosa Soares, coordenador-geral do Fórum Cearense de Comitês de Bacias Hidrográficas e do Fórum Nacional dos Comitês de Bacias Hidrográficas. "Tentamos, no Ceará, pautar a Imprensa, mas na verdade não há esse interesse das empresas de Comunicação em fazer a abordagem ambiental", lamentou o gestor.

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"A gestão é descentralizada e o Governo é apenas um dos participantes", firsou Daniel Schmitz

Daniel Schmitz é presidente do Comitê de Bacia Taquari-Antas, e mostrou as atividades do comitê, o alcance e participação social, com as ferramentas de Comunicação para alavancar a representatividade e alcance do trabalho. "O problema não é da Amazônia, é nosso - a questão da busca de notícias catastróficas, uma questão de escola. Precisamos um dia falar sobre escola de mídia", disse Schmitz. O painel fechou com a fala de Sérgio Cardoso , geólogo da Companhia Riograndense de Saneamento. Em instantes inicia o painel 'Responsabilidades socioambientais das empresas na gestão das águas', com Amyra El Khalili, da Aliança de Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteiras, Clovis Zimmer, da Celulose Riograndense, Rejane Peiratti, da ONG Amigos do Futuro, e Jean Rodrigues Benevides, da Caixa, com moderação de Sidnei Gusmão Agra, da ABES/RS. O segundo FIGA encerrará nesta sexta-feira, 23 de março.

Quinta-feira, 13 de Agosto de 2009


COMMODITIES AMBIENTAIS EM MISSÃO DE PAZ

Este e-book celebra a trajetória pacifista de três décadas da economista e ambientalista Amyra El Khalili, como resultado dos primeiros dez anos da construção econômica socioambiental na América Latina e no Caribe. Trata-se da compilação de alguns de seus principais artigos e entrevistas reproduzidos, discutidos e apresentados em listas na internet, em diversas publicações, palestras, debates, congressos, conferências e seminários no Brasil e no exterior.
Nesta obra, você refletirá sobre temas como economia de mercado, meio ambiente e finanças sustentáveis, redes solidárias e suas estratégias, mudanças climáticas e mercados emergentes, financiamentos de projetos e negócios socioambientais, conflitos sociopolíticos, espiritualidade e esperança, guerra e paz.
Amyra é um exemplo de ativismo a serviço da paz entre os povos, entre os gêneros masculino e feminino, entre progresso e preservação ambiental. Sua militância pela dignidade humana,
pelo respeito à mulher, contra a discriminação de ordem racial e étnica, tem merecido o respeito e a admiração de quantos privam de sua amizade e daqueles que leem os seus artigos.
Como economista, Amyra empenhou-se, acima de tudo, em demonstrar que é possível conciliar uma economia de mercado com a proteção do meio ambiente.
O selo Nova Consciência é honrado pela possibilidade de participar da importante divulgação deste trabalho pioneiro.

Postado por Nova Consciência às 05:29 0 comentários

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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Todos podem fazer a diferença

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Se algum dia lhe disseram “não, você não tem como mudar o mundo”, esqueça, não é verdade. Cada um pode usar o que tem e o que sabe para transformar o planeta num mundo melhor

Por Vivian Palmeira
Colaboração e entrevista de Léia Tavares

Cresce a cada dia a lista de pessoas famosas, ricas e influentes que passaram a dedicar parte de seu tempo à resolução de problemas ambientais e sociais do mundo. Angelina Jolie é uma delas. Além de atriz, ela também é conhecida pelo mundo como embaixadora da ONU (Organização das Nações Unidas). Viaja a vários países e se reúne com autoridades para tratar de questões sociais e de combate à pobreza e à violência. Quem também faz do seu trabalho um instrumento para promover uma sociedade mais justa é o cantor Bono Vox, do grupo de rock U2. Junto a eles, outros tantos artistas, empresários e esportistas integram a lista dos famosos solidários. Recentemente foi o bilionário Bill Gates que se despediu da Microsoft e passou a se dedicar às atividades filantrópicas.
Mas o que poucos tomam conhecimento é do trabalho de milhares de pessoas, talvez não tão conhecidas pelo mundo, que, com recursos ou não, têm oferecido seu talento e esforço visando a mesma causa. Entre elas está Amyra El Khalili, de 44 anos. Ela resolveu usar seu conhecimento, de mais de 20 anos no mercado financeiro paulista, a favor do meio ambiente e da sociedade. Abandonou a carreira de operadora da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) e fundou, em 1996, o Projeto BECE (Brazilian Enviromental Commodities Exchange, sigla em inglês para Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais). Mais tarde, fundou a Aliança RECOs – Redes de Cooperação Comunitária Sem Fronteira, que busca, por meio da educação, informação e comunicação, estimular extrativistas, pequenos agricultores e diversas comunidades a desenvolver atividades de valorização cultural e ambiental. Conheça um pouco mais das idéias progressistas de Amyra El Khalili, que também é professora de pós-graduação e MBA em Economia Socioambiental e, por suas ações, já foi indicada ao Prêmio Bertha Lutz e ao Prêmio Mil Mulheres para o Nobel da PAZ.

Quando a senhora percebeu que poderia usar seus conhecimentos sobre mercado financeiro em favor do meio ambiente?
Comecei minha carreira no mercado financeiro como recepcionista da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), na época em que foi fundada. Com o tempo, ocupei várias posições em diversos departamentos. Foi quando me convidaram para trabalhar na corretora do presidente da Bovespa. Tive oportunidade de fazer vários cursos, pois para cada iniciativa ganhava uma bolsa de estudos. Então, por empenho e dedicação, recebi um convite para trabalhar na mesa de operações da BM&F. Em menos de dois anos me tornei um dos maiores operadores do mercado. Cheguei ao estágio máximo de conhecimento e passei à posição de consultora da BM&F, entre outras instituições. Mas sentia que o meu conhecimento não era para aqueles fins. Estávamos no mercado financeiro especulando fortunas, ao mesmo tempo em que havia muita pobreza e miséria no Brasil. Não me sentia bem com isso. Alcancei nesta etapa um grau de consciência muito profundo, vivenciando guerras e conflitos. Foi quando comecei a estudar o binômio água e energia, e a co-relação entre as guerras e o sistema financeiro.

Como a senhora avalia a questão dos créditos de carbono como paliativo para os problemas de aquecimento global?
Começar a comercializar poluição é o último nível da degradação ambiental e humana. O chamado “compra e venda de créditos de emissão”, é a coisa mais negativa que pode existir no “mercadismo” que o ser humano conseguiu produzir. O movimento deveria ser o contrário: buscar mecanismos financeiros para eliminar a especulação que resulta na degradação ambiental. Hoje, ocorre o oposto, que é financiar para matar. Queremos um sistema que financie a vida.
No futuro é possível que tenhamos conflitos entre países pela luta de recursos naturais?
Estamos vivenciando atualmente, só que de outra forma na América Latina e no Caribe. Mas isso já acontece no Oriente Médio, por exemplo. O exército nacional ainda não está na rua em decorrência dos conflitos pela água, mas em Cochabamba, na Bolívia, houve convulsão social por causa da água, e no Espírito Santo, aqui no Brasil, foi registrado um caso de morte por disputá-la. No Uruguai, tiveram que reformar a legislação para que a água voltasse para as mãos do Governo e da sociedade, pois as águas estavam todas na mão da iniciativa privada, assim, foi feito um plebiscito sobre a reforma hídrica para devolver as águas para a população. Água é um bem de uso público, pertence à nação, então você não pode simplesmente cercar uma bacia hidrográfica e dizer-se dono da água, determinando que a beba quem você quer!

Quais são os principais problemas ambientais que o Brasil enfrenta hoje?
Temos problemas seríssimos, como saneamento básico. No Nordeste inteiro, há seca. Algumas regiões têm água, mas não pode ser consumida pela população porque está contaminada. Nessas bacias hidrográficas, por exemplo, despejaram efluentes, ou seja, dejetos como urina, fezes, esgoto químico sem tratamento. A água, o rio, o mar, não devem ser canais para despejarmos nossos excrementos, resíduos industriais e lixo. Estima-se que os maiores degradadores de águas no Brasil sejam as próprias prefeituras. A indústria passou por uma pressão tão violenta que, por força de lei, precisou desenvolver sistemas de gestão ambiental com filtros, reciclagem e reutilização de água, sendo hoje o setor que menos polui. Mas isso não quer dizer que não tem indústrias que poluem. No Rio Grande do Norte, no Nordeste, muito desejo in natura está sendo despejado diretamente no mangue, rios e mar. Recentemente foi denunciado por Rose Dantas, uma bióloga ambientalista, o maior desastre ambiental no Rio Grande do Norte: 40 mil toneladas de peixes foram mortos, e as pessoas que comeram os peixes contaminados estão morrendo. Lançaram resíduos químicos no mangue indiscriminadamente. O mangue deságua nos rios e, conseqüentemente, contaminou o Rio Potengi, a principal fonte de abastecimento da cidade de Natal. Eles acham que o mangue é lugar de coisa suja. Escondem facilmente o despejo ilegal de dejetos no mangue por causa do odor característico do lugar. E os pescadores de mariscos, de ostras, que vivem da pesca, como ficam? O mangue é rico, produz muitas espécies e mantém o equilíbrio biológico da costa marítima, entre outros benefícios ambientais e sociais.

Como economista e educadora, você acredita que o planejamento econômico atual incentiva o consumismo exacerbado e contribui para a degradação do meio ambiente?
A economia de mercado não é uma virtude ou um defeito do capitalismo, é um modelo de sobrevivência político. Não devemos dissociar a política da economia, porque os economistas apresentam, por exemplo, o melhor plano econômico, mas se o político não aceitar, não há como implantar a proposta, por melhor e mais legítima que ela seja! Definitivamente, o mercado financeiro está com câncer. E o que faz uma célula cancerígena? Metástase. Ela se propaga no corpo da economia e vai destruindo. Matando-a aos poucos, com muito sofrimento. Para que o mercado financeiro seja fruto de uma economia saudável, é importante desenvolver uma célula com o mesmo movimento que a metástase. Se essa célula fosse introduzida no corpo da economia, ela propagaria o Bem. É preciso combater a exclusão social e a degradação ambiental como parte dos resultados dessa economia. Quando excluímos o outro, somos, todos nós sem distinção, impactados diretamente. Estamos também nos excluindo por algum motivo e sentindo as dores desse processo.

Como é possível mudar essa realidade?
É necessário projetar na mente das pessoas imagens positivas, de auto-estima, de valores humanos e espirituais, trabalhando a consciência. É um processo de resgate, de cura, não de culpa – porque somos sempre bombardeados pela grande imprensa com essa noção de culpa. Vivemos um modelo de sucesso materialista onde Ter é melhor que Ser. Que mensagem estamos passando para os nossos jovens? O que nós estamos dizendo para a sociedade quando a gente só propaga a doença, o mal, a violência, o oportunismo? Tenho crenças! E por isso que ainda estou em pé, fazendo coisas. Acredito no poder da informação. Uma informação clara, transparente e didática. Podemos ter opiniões, mas não vamos decidir pela sociedade. É na palavra consciência que está o poder de decisão, e não adianta fugir dela. Gosto muito da expressão nova consciência porque não podemos dizer que as pessoas não estão conscientes, elas estão, mas num padrão de verdade antigo, velho, desgastado. Existe consciência, sim. Mas a consciência de que eu preciso ganhar dinheiro, que preciso pagar as contas, que preciso lucro, que é lucro a qualquer preço. Uma consciência que está profundamente doente em estado terminal.
Então é a partir da informação que a sociedade saberá se posicionar e transformar o mundo?

Exatamente! O que os impede de manipular a população é a democratização da informação. Quando uma revista como a Universo Espírita faz entrevista com quem pensa e se expressa diferente, quebra-se o ciclo vicioso do maniqueísmo. É quando essa informação chega às comunidades, nas pessoas que não têm informação com opções. A camada mais humilde da sociedade, em especial, está assinando contratos sem saber o que assinou e acabam se comprometendo com um arsenal de instrumentos econômicos e jurídicos tornando-se escravos. Quando traduzimos essas informações e as colocamos à disposição da sociedade, passamos a inibir a ação de especuladores e oportunistas. A única forma de mudar esse modelo materialista e consumista em que vivemos, de combater essa autofagia financeira, é a informação disponibilizada democraticamente, de forma transparente e isenta, para que o cidadão possa decidir sobre seu destino.

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Entrevista concedida à Revista Universo Espírita, Edição 57